São Paulo, domingo, 28 de abril de 1996
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Refugiados dependem de ajuda da guerrilha

IGOR GIELOW
DO ENVIADO ESPECIAL AO LÍBANO

Os refugiados que tiveram que deixar suas casas por causa da ofensiva israelense dependem da ajuda diária do braço assistencial do Hizbollah, grupo mais conhecido pelos ataques contra Israel.
Comida -pão tipo sírio e sopa- e colchões são monitorados uma vez por semana. O cotidiano dos refugiados consiste na divisão de tarefas como limpeza, pedágio nas ruas para arrecadar ajuda -e espera.
Não há trabalho. A situação em Beirute, que tem cerca de 200 mil refugiados em escolas, é caótica. Todo dia chegam colchões sírios e remédios da Europa e do Japão.
Solidariedade
Comida por enquanto não falta. Todos os moradores estão ajudando -solidariedade mais notável ainda pelo fato de que o país viveu uma guerra civil entre 1975 e 1990.
As 17 denominações religiosas libanesas se confrontaram e se uniram em várias combinações: cristãos contra muçulmanos, muçulmanos contra muçulmanos e cristãos contra cristãos.
"Agora não há nada disso. Temos de acabar com a invasão e ajudar os que sofrem", diz a maronita (católica) Nimara Zanoud, dona de um ginásio no setor cristão de Beirute que abriga 200 refugiados, a maioria muçulmanos.
Um deles, Mohammed Achtar, 42, é brasileiro-libanês. Nasceu na aldeia de Tibnine, dentro da atual área de ocupação de Israel, e morou no Brasil entre 1981 e 1989.
"Em Cuiabá dava para trabalhar. Era duro, não tinha muito dinheiro, mas dava para viver melhor do que aqui, agora."
Uma tragédia aumenta sua vontade de voltar -sua mulher foi morta em um ataque israelense.
No caso de Hurria Hussein Menem, 21, a tragédia serviu de bilhete de volta para o Líbano. Com seu filho de um ano, ela deixou o marido em Foz do Iguaçu para ver o que sobrou de sua família -sete membros, entre eles seus pais, morreram em um ataque no primeiro dia da operação israelense.
Após ver parentes no Bekaa e ficar em um prédio semiconstruído, sem luz, ela voltou a Beirute. Deve voltar ao Brasil nesta semana.
"Ficamos com muita pena dela. Gostaria de poder ir para lá também", disse à Folha em Caroun, no Bekaa, Fehet Nisrum, 33. Caroun foi a única cidade não atacada pelos israelenses na fronteira sul do Bekaa.

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