São Paulo, domingo, 28 de abril de 1996
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VAZIO

Não parece exagero dizer que a única boa notícia para o governo Fernando Henrique Cardoso, no período já transcorrido de 1996, foi a inflação mensal mais baixa em décadas.
Antes como depois desse registro só houve fatos negativos, do massacre de Eldorado de Carajás ao emperramento das reformas constitucionais, da crise fiscal dos Estados às dificuldades do setor bancário, da recaída na lamentável prática do "é dando que se recebe" a uma reforma ministerial pífia, para dizer o menos.
É verdade que as reformas constitucionais, eixo da ação governamental até agora, não dependem da vontade exclusiva do Executivo. Mas, na ausência delas, cresce a sensação de que faltam inúmeras outras políticas.
Para chegar a essa constatação, basta recordar o estado atual das cinco prioridades de campanha, expostas nos dedos da mão espalmada, símbolo da campanha presidencial.
Na agricultura, continua-se sem uma política agrícola, enquanto o governo embaralha-se em jogo fisiológico com o PTB, o partido que ocupava a pasta até agora com o senador José Eduardo de Andrade Vieira.
Na saúde, a única ação mais notória do ministro Adib Jatene é a pregação por um novo imposto para financiar a sua área, sem demonstrações de que os recursos já disponíveis estão sendo de fato bem utilizados.
Na questão da segurança pública, ainda que não da responsabilidade direta do governo federal, o massacre de Eldorado de Carajás teve enorme repercussão negativa, até mesmo no exterior. Mas há ainda a sequência de chacinas de fim-de-semana em São Paulo e o crescimento do número de crimes nas principais capitais.
No tema emprego, chegou-se ao mais alto nível de desocupação desde a introdução do Plano Real.
Só na educação há, de fato, uma proposta razoavelmente consistente em andamento, embora ainda em fase embrionária.
O candidato FHC havia declarado seguidamente que a reforma tributária seria a sua prioridade. Não só não foi como está tão atrasada que se esboça uma inusitada combinação de greve (de trabalhadores) e locaute (de empresários) para cobrá-la.
Na área social, em geral, esta Folha já apontou, no domingo passado, a carência absolutamente gritante.
Na relação com o Congresso, o governo ou recorre ao fisiologismo ou à emissão de MPs (medidas provisórias) em número tão abusivo que chega até a chocar os juristas.
Mesmo no interior do governo, o que mais se nota é o desentendimento entre ministros, conforme esta Folha já apontou neste espaço.
A rigor, 16 meses após a posse, a única política de fato implementada pelo governo é a monetária, cuja dosagem, no entanto, é suscetível de discussão por provocar recordes de pedidos de falência, na ponta empresarial, e de inadimplência, na ponta do consumidor.
Tudo somado, a manutenção de uma inflação baixa, mérito inquestionável do Planalto, começa a parecer pouco, ainda mais se considerado o altíssimo nível de expectativa que cercava o governo no seu início.

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