São Paulo, domingo, 28 de abril de 1996
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'Na Rota do Crime' é B.O. filmado

VAGUINALDO MARINHEIRO
EDITOR DE CIDADES

"Bem, como havíamos informado, estivemos no local dos fatos onde foi (sic) colhidos os informes, bem como a característica de cada elemento que por aqui passou e efetuou o roubo. Houve disparo de arma na tesoureira, ferindo a mesma, tendo ela sido socorrida no hospital Sorocabano. A mesma não corre risco de vida."
Isso parece alguém lendo um Boletim de Ocorrência. Mas foi como o delegado Francisco C. dos Santos, da Delegacia de Roubo a Bancos, narrou o assalto a uma agência do Itaú no primeiro episódio de "Na Rota do Crime", programa que a Rede Manchete exibe nas noites de sexta-feira.
A emissora tentou fazer um programa vibrante. Para isso, aboliu o repórter e colocou uma câmera com os policiais, que relatam suas operações.
Poderia dar certo, mas dá sono.
A única coisa que tem movimento no programa é a câmera dentro do carro, que sacode aos trancos a cada buraco ou curva.
O grande problema é que a polícia está chegando no "local dos fatos" quando os "elementos já se evadiram". Sobra muito pouca ação para registrar.
No programa de estréia, a equipe acompanhou a captura de "meliantes" que roubaram uma pizzaria, uma caça a travestis que mostram "a genitália desnuda", roubos a bancos, uma tentativa de suicídio e também foram a uma casa que teria sido furtada. Mas, quando a polícia e a equipe de TV chegavam, a ação já havia acabado.
Comédia
Quando os policiais tentam ser didáticos, "Na Rota do Crime" vira comédia ou preconceito.
Antes da operação de repressão aos travestis, o tenente Agrella, do 12º Batalhão da PM, dá instruções aos soldados sobre o que é ato obsceno. "Travesti que abre o casaco e mostra a genitália desnuda é crime... Urinar na via pública não é..." E faz questão de ressaltar. "Jardim Luzitânia (bairro da zona sul de SP onde ocorreu a operação) é bairro de classe média, média alta. Então, todo cuidado na abordagem."
Após a prisão de quatro travestis, que estavam sem documentos, o mesmo Agrella diz: "São pessoas que até enganam um leigo, um inocente. Normalmente, os clientes são pessoas de idade".
Fica claro que os policiais agem sem nenhuma naturalidade. Tudo deveria parecer real, mas tudo parece ser ensaiado.
A Manchete tentou dar vida à sua programação e melhorar a fórmula utilizada pelo "Aqui, Agora", por exemplo.
Mas, nesta época que cultua Quentin Tarantino, há menos emoção, tiros e câmera vibrante no B.O. filmado da Manchete que na maioria dos filmes da "Sessão da Tarde".

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