São Paulo, segunda-feira, 29 de abril de 1996
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Sol Lewitt traz sete estrelas para a Bienal

KATIA CANTON
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM HARTFORD (EUA)

Foram 3 horas de trem de Nova York a Hartford, em Connecticut, cidade natal do artista norte-americano Sol Lewitt, um dos convidados da 23ª Bienal Internacional de São Paulo, entre 5 de outubro e 8 de dezembro.
À chegada, a primeira surpresa: o museu de arte Wadsworth Atheneum, o mais antigo e um dos mais importantes dos EUA, abriga a maior mostra de desenhos de parede de Lewitt, além de sua coleção de arte particular, que inclui trabalhos de artistas consagrados, de Eva Hesse ao colega Donald Judd.
"É o jeito de ele ajudar artistas que estão começando", explica Andrea Miller Keller, curadora do museu e especialista na obra de Lewitt. Ela mostra, com exclusividade à Folha, as maquetes das obras que serão feitas para a próxima Bienal de São Paulo. São estudos para pinturas em paredes, obedecendo a rígidas regras construtivas e em forma de estrelas.
São sete estrelas, cada uma com um número de pontas diferente, justapostas num crescendo, de três a nove pontas. Elas são ampliadas por meio de espectros criados por contornos coloridos que vão ladeando as formas originais.
A grande surpresa do dia foi o jantar com Sol Lewitt e sua esposa Carol, regado a comida e cerveja indiana. Esse homem de 68 anos, calado e tímido, é conhecido por nunca dar entrevistas, inclusive para a imprensa local.
Por trás de sua timidez, Lewitt revela a inteligência cautelosa que utilizou para construir uma das obras mais radicais e interessantes da história da arte conceitual norte-americana. Sol Lewitt conta que esteve no Brasil uma única vez, em 1969 e está feliz em voltar.
"Só estive no Rio de Janeiro e achei-a uma das cidades mais bonitas que já vi. Quero voltar para lá e também ir a Bahia e a Ouro Preto", disse. Dos artistas brasileiros que conhece, cita Lygia Clark, a quem admirava por suas engenhosas propostas construtivas.
Recentemente, ele viu uma mostra de fotos de Sebastião Salgado e também gostou muito.
Apesar do conhecido rigor de traços e austeridade de cores e formas de sua obra, Lewitt tem uma visão ampla da arte em seus diversos contextos culturais.
Ele vem de uma família russo-judaica, sua esposa tem ascendência argentina e o casal divide seu tempo entre a pequena cidade de Chester, em Connecticut, e Spoleto, na Itália. Eles também mantêm o loft onde Sol Lewitt vivia, nos "tempos difíceis" no Lower East Side de Nova York.

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