São Paulo, terça-feira, 30 de abril de 1996
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Sobrevivente encontra irmã desaparecida

CLÁUDIA MATTOS
DA SUCURSAL DO RIO

Antes de ser levado para o 2º Tribunal do Júri para ser testemunha da acusação, Wagner dos Santos, 25, foi surpreendido com a visita de Sônia Maria de Araújo, 32, que se diz sua irmã.
Ao ver Wagner dando entrevista na televisão, Sônia reconheceu o irmão de quem havia se separado logo depois da morte da mãe, há 17 anos. "Meu marido achou uma coincidência muito grande o fato de a mãe dele ter morrido do mesmo jeito que a minha."
Na entrevista, Santos contou que sua mãe morrera atropelada, junto com uma filha, perto do Ceasa, no Irajá (zona norte do Rio).
Sônia, que se lembrava de ter um irmão chamado Wagner dos Santos, decidiu ir procurá-lo na superintendência da PF (Polícia Federal), onde Santos ficou sob proteção policial desde que chegou ao Rio, vindo da Suíça, no sábado.
Pinta na língua
Acompanhada pela psicóloga Andrea Chiesorin, que assiste Santos, Sônia foi visitá-lo. Após uma conversa, na qual descobriram fatos do passado em comum, Santos pediu uma prova definitiva do parentesco.
"Ele me disse que a irmã dele tinha uma pinta na língua. Mostrei minha língua para ele, e ele viu a pinta e que eu era sua irmã", afirmou Sônia.
Após a morte da mãe e de uma das irmãs num atropelamento, os demais filhos -Wagner, Patrícia, Sônia e Vandinéia- se separaram. Do pai, que Sônia acusa de ter ameaçado matar os filhos, ela nunca mais teve notícias.
"Meu pai sumiu. Não sei se ele é vivo ou morto", afirmou. Ela disse que seus pais eram alcoólatras.
Sônia conta que, após a morte da mãe e da irmã, Patrícia e Vandinéia foram morar com uma mulher, cujo nome ela acredita ser Jurandir Nunes de Oliveira e que moraria no Jardim Primavera, na Baixada Fluminense.
"Espero que, agora que encontrei o Wagner, possa encontrar elas também."
Febem
"Me disseram que eu não poderia tirá-lo de lá porque eu era menor".
Sônia disse não que não sabia, até domingo, que seu irmão era uma das vítimas da chacina da Candelária. "Nunca pensei que ele estivesse morando na Candelária. Para mim, ele era interno em alguma instituição."
Sônia assistiu ao primeiro dia do julgamento. Wagner Santos passou a tarde inteira numa sala do fórum, protegido por um forte esquema de segurança.
Sobrevivente da chacina, Santos, que era lavador de carros, se mudou para a Suíça no ano passado, sob proteção da embaixada brasileira, depois de um novo atentado contra sua vida.
Desde que chegou, a testemunha tem sido mantida sob estreita vigilância, acautelada na sede da Polícia Federal, no centro da cidade do Rio de Janeiro.

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