São Paulo, terça-feira, 30 de abril de 1996
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Réu da Candelária confessa que matou

DA SUCURSAL DO RIO

O soldado Marcos Vinícius Borges Emmanuel, 29, causou surpresa ontem ao confessar, durante julgamento no Rio, sua participação na chacina da Candelária.
Emmanuel confessou o crime ao ser interrogado pelo juiz do 2º Tribunal do Júri, José Antônio Geraldo, no Fórum do Rio.
Emmanuel disse que atirou em um dos dois meninos de rua mortos próximo ao MAM (Museu de Arte Moderna), centro do Rio, na madrugada de 23 de julho de 1993.
O PM negou, no entanto, que tenha atirado nos seis meninos mortos na mesma noite em frente à igreja da Candelária, no centro. Na dupla chacina, mais seis crianças ou jovens ficaram feridos.
O depoimento do soldado, que foi preso dois dias após a chacina e sempre negou participação, inocenta os outros três acusados nesta primeira fase: tenente PM Marcelo Ferreira Cortes, soldado PM Cláudio Luiz dos Santos e o serralheiro Jurandir Gomes de França.
Os três, juntamente com Emmanuel, foram reconhecidos pela testemunha Wagner dos Santos, sobrevivente do crime.
Segundo o depoimento do soldado, além dele próprio, participaram da chacina o ex-PM Maurício da Conceição, o "Sexta-Feira 13", já morto e que seria o líder; o ex-PM Nélson dos Santos Cunha, que se entregou à polícia no último dia 24; e o soldado Marco Aurélio Alcântara, preso há duas semanas.
Para o advogado Fernando Fragoso, assistente da acusação, a confissão de Emmanuel faz parte de tática para atenuar sua culpa.
A sessão de julgamento começou às 14h05. Os defensores de três dos acusados colocaram em prática a tática de fazer os julgamentos em separado, recusando o nome do primeiro indicado para o júri.
Emmanuel ficou sozinho para ser julgado ontem. Após confessar o crime, ele disse que fazia aquilo porque estava vendo que inocentes poderiam ser condenados.
"Gostaria de pedir perdão a todo mundo. Apesar de querer ser perdoado, cheguei à conclusão que tenho de assumir esse castigo."
No depoimento, o soldado disse que "por volta de meia-noite e meia" do dia 23, encontrou Maurício Conceição e Alcântara, perto da sua casa, e conversaram sobre um incidente da tarde anterior.
O incidente foi o apedrejamento, por menores, na área da Candelária, do carro usado por Emmanuel, após ele ter detido um rapaz chamado Neílton.
Incitados por Conceição a dar "uma surra" nos menores, os três teriam ido à casa do soldado Nélson Oliveira dos Santos Cunha, em um Chevette amarelo. De lá os quatro teriam rumado à Candelária, com cassetetes e armas.
Nas proximidades, teriam visto três rapazes se levantarem e saírem para uma rua lateral. Eles teriam sido capturados e colocados no carro, mesmo sem a certeza de que estivessem no apedrejamento.
Pouco depois, um revólver, que estaria com Cunha, teria disparado acidentalmente e atingido Wagner dos Santos.
Pensando que ele estivesse morto, Conceição teria rumado ao MAM, onde todos teriam saído do carro e atirado nos rapazes.
Os quatro teriam então rumado à Candelária, onde Emmanuel disse ter ficado no carro e só ter ouvido os disparos feitos pelos demais.

LEIA MAIS às págs. 2 e 3

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