São Paulo, terça-feira, 30 de abril de 1996
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Presos na Internet

MARIA ERCILIA
DA FOLHA ONLINE

No sábado Richard Weideman deixou a prisão, em Cape Town, África do Sul, encerrando uma experiência ingênua, mas involuntariamente significativa. Weideman, que não cometeu crime algum, passou três meses perfeitamente isolado do mundo, usando somente uma conexão com a Internet, e escolheu o dia 27 de abril para sair por ser o segundo aniversário das eleições democráticas na África do Sul.
Weideman recebeu 3.200 mensagens de 25 países e uma razoável atenção da mídia, conseguindo a publicidade que queria para seu projeto Woza (World Online South Africa, ou, em zulu, "venha aquiïï).
Teste de Rorschach
A Internet tem funcionado como um verdadeiro teste de Rorschach, iluminando medos e fantasias os mais variados (no teste de Rorschach, o psicólogo mostra ao cliente um cartão com manchas e pergunta o que elas lhe sugerem).
Alguns enxergam nela um antro de pornografia, outros o negócio do século, outros ainda a maior máquina de perder tempo do planeta. Com incrível maleabilidade, ela serve de argumento tanto para utopistas impenitentes como para profetas do apocalipse.
Assim, na África do Sul nada mais razoável que simbolize uma válvula de escape para o isolamento do mundo. Mesmo que em outros lugares se sugira que ela é exatamente o oposto: um instrumento que perpetua esse isolamento. Weideman literalmente encarnou a prisão geográfica a que os habitantes de países periféricos estão sujeitos, acompanhando o Primeiro Mundo pela janela da mídia, mas privados de desfrutar seus benefícios com o corpo inteiro.
Até mesmo o nome do projeto (Woza) tem uma face dupla: em inglês o significado é pomposo, parece emprestado de um release de empresa americana. Em zulu, é um apelo íntimo, humilde, quase infantil.
A página (http://www.woza.co.za/woza) de Weideman, intitulada "Prisioneiro Virtualïï, tem um diário de bordo da experiência, com um mapa da cela, relatório de problemas e até um lema: "o que não está online, não existe!ïï
Mas não encontramos ali experiências transcendentes com com a comunicação exclusivamente por cartas com outros humanos. A experiência do prisioneiro virtual se esgota em sua finalidade de chamar alguma atenção, arrebanhar voluntários e talvez conseguir dinheiro para um projeto de Internet comunitária a baixo ou nenhum custo na África do Sul.

NETNOTAS
Beta
A Netscape lançou hoje o primeiro beta do Navigator 3.0. Não muda muito em relação ao último lançamento, o Atlas. Vem com programa de telefone para a Internet, um navegador em três dimensões e programa de vídeo, dispensando aplicações auxiliares.

Provedor
A Microsoft prepara-se para invadir a praia do jornalismo em grande estilo. Contratou um famoso jornalista norte-americano, Michael Kinsley, para editar uma revista na Web, que se chamará "Slate". Kinsley já se mudou para Seattle. Segundo ele, está no prédio dos "provedores de conteúdoïï da empresa de Bill Gates. Novos tempos.

E-mail netvox@folha.com.br

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