São Paulo, terça-feira, 30 de abril de 1996
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Caixa recupera latinidade de Angela Maria

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REDAÇÃO

Chegou a vez de Angela Maria. Depois de homenagear Orlando Silva e Nelson Gonçalves, a BMG lança caixa de três CDs da cantora, com gravações de 1951 a 1992.
Antes de cantora, foi operária de fábrica e secretária de dentista. Acabou no Dancing Avenida (Rio), como crooner, onde começou imitando seu ídolo, Dalva de Oliveira -de quem aprendeu o clássico "laririri".
A história é resumida em libreto de 24 páginas que acompanha o CD, com textos de Sílvio de Abreu e Moacyr Andrade.
A parte gráfica da caixa segue padrões pouco rígidos de qualidade -pouca informação, ausência de fichas técnicas dos fonogramas incluídos e discografia, nenhum depoimento de Angela.
A parte musical é mais rigorosa. As faixas, selecionadas por José Milton, foram masterizada pelo sistema Cedar/Sonic Solutions, com resultados irrepreensíveis.
Repertório
A seleção abrange praticamente todas as fases da carreira de Angela. As faixas se dispõem em ordem cronológica, o que facilita a compreensão da evolução da cantora.
Por aí, percebe-se que sua fase inicial, ainda na década de 50, é a mais fértil que ela atravessou. Sucedem-se clássicos como "Fósforo Queimado", "Vida de Bailarina", "Estava Escrito", "Balada Triste", as inacreditáveis "Mamãe" e "Meu Dono, Meu Rei" (leia letra ao lado)...
Em especial a partir do estouro de "Babalu" (56), Angela se moldou à cafonice latino-americana em mambos, tangos, boleros, valsinhas, baladas bregas e até fados.
Firmou-se não como cantora brasileira, mas como intérprete de latinidade, vivendo em perpétuas turnês por México, Argentina, Paraguai, Uruguai, Portugal.
Declínio
Ainda nos 60, Angela acabou por ceder às baladas pesadas de fossa, deixando de lado o humor chicano e mergulhando na cafonice deprê, com raros momentos de brilho.
Nesse ínterim, a MPB mudou radicalmente, o que significa um reacomodamento de Angela e seus contemporâneos ao ostracismo. O terceiro CD passa por essa fase, que esconde preciosidades como "Tango pra Teresa" (75) e "Que Será" (92), clássico de Dalva.
Volta às origens, era a forma ideal de concluir a homenagem. Mas preferiram acrescentar um dueto com Cauby de "Codinome Beija-Flor" (de Cazuza), como a provar que Angela é moderna.
Não era necessário. O mesmo movimento que a relegou a um semi-esquecimento pôs a nu a possibilidade de que se visse seu kitsch desvairado como expressão legítima de brasilidade e latinidade.

Caixa: A Estrela do Brasil
Artista: Angela Maria
Lançamento: BMG
Preço: R$ 60, em média

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