São Paulo, quarta-feira, 1 de maio de 1996
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Mortos já chegam a 49 em Pernambuco

FÁBIO GUIBU
A AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

Subiu para 49 o número de mortos em consequência dos deslizamentos de morros provocado pela chuva de anteontem na região metropolitana de Recife (PE).
A informação foi confirmada às 17h30 de ontem pelo diretor do IML (Instituto de Medicina Legal) do Estado, Dilson Marques.
Com isso, chega a 50 o total de mortos em abril no Estado devido às chuvas. Na semana passada, um menino já havia morrido em Recife em um deslizamento de terra. Em todo o país, 266 pessoas já morreram desde o início do verão.
A Defesa Civil, que confirmou o mesmo número de mortos do IML, estima que outras 20 pessoas estão desaparecidas, a maioria na localidade de Córrego do Boleiro, na zona norte de Recife. No local, seis casas foram soterradas.
Ainda segundo a Defesa Civil, 3.138 pessoas estão desabrigadas em Recife, Olinda e Camaragibe (cidades da Grande Recife).
Todas foram removidas para 21 alojamentos provisórios. Nas escolas transformadas em abrigos, elas se alimentavam com merenda destinada aos alunos. O governo do Estado informou que vai liberar recursos para a compra de colchões, comida, cobertores e filtros d'água. Também confirmou o pagamento do enterro das vítimas.
Nas áreas atingidas pelos deslizamentos, prosseguiu ontem o trabalho de resgate das vítimas e de remoção dos destroços. As operações foram acompanhadas por curiosos e parentes de desaparecidos.
No Córrego do Boleiro, uma áreas em que mais choveu, as equipes de resgate contavam com a ajuda de uma escavadeira e caminhões. O sol reapareceu ontem.
'Nada igual'
Entre os operários, caminhava de um lado para o outro o vigia Gerson Ramos da Silva, 68, à procura de objetos que poderiam ser reaproveitados. A casa de Silva foi coberta pela lama quando ele estava trabalhando. A mulher dele, Maria Irene, conseguiu sair e foi morar na casa de amigos.
"Estamos aqui há 20 anos e nunca vi nada igual", disse o vigia. "Para mim, foi o cano lá de cima que estourou e provocou essa tragédia." Técnicos que acompanham o caso investigam a possibilidade de a chuva ter provocado o rompimento de uma adutora e uma cisterna (reservatório de água) instaladas sobre o morro.
O aparente risco de um novo acidente parecia não intimidar os moradores das casas próximas ao local onde ocorreu o deslizamento, no Córrego do Boleiro. A maioria disse que não sairia do morro.
"Se eu pudesse, sairia daqui, mas não tenho para onde ir", disse Valcíria Francisco Oliveira de Melo, 34. Ela mora há 18 anos no local, com o marido e dois filhos. A casa família sobrevive com R$ 100. A casa fica a cerca de cinco metros do local do deslizamento.

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