São Paulo, quarta-feira, 1 de maio de 1996
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Livro reabre feridas sobre extermínio de judeus

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Lembra da polêmica suscitada pelo livro "The Bell Curve", cuja tese rezava que brancos tem Q.I. mais alto do que negros? Pois uma nova obra promete causar igual comoção.
Trata-se de "Hitler's Willing Executioners: Ordinary Germans and the Holocaust" (em livre tradução, "Os Executores Concordes de Hitler: Alemães Comuns e o Holocausto"), do cientista político norte-americano Jonah Goldhagen -há duas semanas na lista dos mais vendidos do jornal "The New York Times".
Baseado em estudos realizados em departamentos do governo alemão e no que sobrou dos centros de trabalho escravo -não confundir com campos de concentração- a obra trata da origem do holocausto.
E argumenta que a matança de judeus promovida por Hitler não foi executada por um grupo de fanáticos seguidores do Fuhrer, que tentaram esconder as mortes do resto da população, mas por milhares de "homens comuns".
Segundo a revista "Newsweek", um dos documentos apresentados no livro é a foto de um soldado alemão posando, de rifle em punho, ao lado do corpo de uma mulher judia que ele acabara de eliminar. Atrás da foto, aparece uma dedicatória do soldado à sua mãe. Que tipo de pessoa se orgulharia de mandar para casa uma foto como essa?
Para o autor, não foi fanatismo ou uma cega obediência teutônica que levou o exército alemão a perpetrar o holocausto. Ele prova que soldados podiam pedir para ser dispensados de participar do extermínio, mas poucos o fizeram. Diz Goldhagen que pelos números oficiais cerca de 100 mil pessoas estiveram diretamente envolvidos na matança, mas que ele não "ficaria surpreso se esse número chegasse a mais de meio milhão".
Sua conclusão é de que o holocausto é o resultado de 400 anos de perseguição aos judeus, iniciada por Lutero, pai do anti-semitismo alemão.
Na Alemanha, historiadores já se manifestaram contra o livro, que ainda nem foi traduzido para a língua de Goethe. O professor e deputado Peter Glotz, por exemplo, acha que Goldhagen erra ao afirmar que o holocausto é uma "doença" exclusivamente alemã: "O ódio contra qualquer grupo étnico tende ao genocídio, não só de judeus, como de muçulmanos, hutus e tutsis". Pronto: está aberta a sessão bate-boca.

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