São Paulo, quarta-feira, 1 de maio de 1996
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Harper prega o despertar da consciência

MARCEL PLASSE
ESPECIAL PARA A FOLHA

Ben Harper, 25, tem sido chamado de Jimi Hendrix dos anos 90 -ainda que um Hendrix acústico-, por mostrar o mesmo orgulho, carisma e potencial para unir diferentes facções da cultura musical num estilo único, além de tocar e cantar como um possuído.
Carregando sua guitarra Weissenborn (modelo dos anos 20) e seu skate, Harper confunde rótulos. Um blueseiro com a voz de um cantor de gospel, um funkeiro acústico, um roqueiro negro que toca violão, um cantor folk rastafari -todas as definições cabem e, mesmo assim, não bastam.
Seu novo álbum, "Fight for Your Mind", é um apelo ao despertar da consciência do tipo esquecido desde Bob Dylan e Bob Marley. Harper canta contra a opressão em versos do tipo "A constituiçao é baseada na ganância e escrita por aqueles que tem, não pelos que precisam".
"Se eu pudesse transmitir apenas uma coisa às pessoas, seria uma vibração positiva", ele diz à Folha, por telefone, de Los Angeles, onde mora. "Eu gostaria de trazer às pessoas o que a música me trouxe. Ela me inspira a agir. Minhas palavras não são só teoria e prática. Elas são os fundamentos das minhas ações".
Suas palavras, como suas letras, soam similares à linguagem revolucionária dos anos 60. "As pessoas que me inspiraram foram Jimi Hendrix, Peter Tosh e Woody Guthrie. Pessoas que queriam trazer algo mais para a música, em vez de apenas se aproveitar dela para vender discos."
Se tivesse que escolher um estilo para definir a si, Harper não escolheria o óbvio rótulo folk. "Minha música é soul", explica na voz baixa, suave, que marca seu canto.
Guitarra
Um de seus orgulhos é a guitarra Weissenborn. "É uma guitarra slide acústica de colo, feita nos anos 20. Só foi fabricada durante sete anos por uma família de fabricantes de violinos. Parece um violino enorme."
Ele critica os que imitam os grandes mestres do blues. "A guitarra slide tem uma grande tradição no blues, a qual eu amo e me afetou bastante. Mas um monte de gente copia o que se fazia no passado e chama isso de tradição. Se você não faz parte da tradição, não faz música tradicional."
Para se fazer música, diz Ben Harper, é preciso vivê-la. Não apenas nas melodias, mas na ação cotidiana. "Você tem que perceber que até o máximo que pode dar não é o suficiente. E quem não faz nada sobre o atual estado da humanidade faz parte do problema. Você tem que fazer o que pode."
"Sim, sou um idealista. E por que você não é?"

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