São Paulo, quarta-feira, 1 de maio de 1996
Texto Anterior | Índice

Filme elabora poesia da sensualidade

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Como o excelente "Mulheres Diabólicas", de Claude Chabrol, "O Corpo" coloca em cena duas mulheres cúmplices de um crime de sangue. Nos dois casos, o crime é súbito e inocente. Não pode haver, entretanto, dois filmes mais distantes entre si.
As mulheres de Chabrol -rígidas, descarnadas, desafeiçoadas- matam por desamor. As de Garcia -carnudas, faceiras, sensuais- matam por amor. Daí decorre todo o resto.
"O Corpo" tem uma leveza, um humor e uma poesia ausentes da nova safra do cinema brasileiro -esta é sua virtude.
Por outro lado, tem um certo desleixo técnico -um foco que se perde aqui e ali, uma iluminação irregular, uma queda de ritmo em algumas passagens- que foi aparentemente superado em produções mais recentes.
Mas as opções principais do diretor foram inspiradas. O elenco é uma delas: Antonio Fagundes está caricato como exige seu papel de macho mimado pelas mulheres que o cercam, Marieta Severo e Cláudia Gimenez, deliciosas em sua inocência e sem-vergonhice.
A opção cenográfica foi ainda mais feliz. Há uma deliberadamente imprecisa definição de época (assiste-se a "O Último Tango em Paris", dos anos 70, mas carros e roupas são da década de 50) e de ambiente (a casa e o bairro dos protagonistas parecem de província, mas a boate e os edifícios são da metrópole).
Essa mistura leva a uma espécie de isolamento dos personagens num tempo fora do tempo.
Fiel a seu título, o filme é uma ode ao corpo.
(JGC)

Texto Anterior: "O Corpo" sai com quatro anos de atraso
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.