São Paulo, quarta-feira, 1 de maio de 1996
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"O Corpo" sai com quatro anos de atraso

DANIELA ROCHA
DA REPORTAGEM LOCAL

O diretor José Antonio Garcia, 40, esperou quatro anos para lançar "O Corpo", longa-metragem com a adaptação do conto homônimo de Clarice Lispector.
O filme, protagonizado por Antonio Fagundes, Marieta Severo e Claudia Jimenez, estréia nesta sexta-feira, no Espaço Unibanco de Cinema, em São Paulo.
O motivo para tanta espera foi um só. Quando foi finalizado, em 1992, não havia sistema de distribuição no Brasil.
Mesmo sendo vencedor do Festival de Brasília, ainda em 92, e também do Festival Internacional de Cine de Cartagena, Garcia resolveu segurar a estréia.
"Aquele seria o momento ideal para arrebentar no Brasil, mas era uma fase crítica porque os distribuidores não exibiam filmes brasileiros e todas as produções que entravam no circuito em uma semana eram tiradas de cartaz."
O diretor aproveitou a atemporalidade do tema, a paixão nas relações humanas e segurou o lançamento. "Agora existe um circuito paralelo nas grandes capitais que propicia a exibição do cinema independente brasileiro aqui e, consequentemente, no exterior."
Triângulo amoroso
Em "O Corpo", Garcia tentou manter a atmosfera do conto de Lispector. "Achava muito difícil manter a tragédia do conto sem transformá-la em um pastiche. Era muito fácil escorregar."
A história traz um triângulo amoroso, formado por um homem e duas mulheres que convivem pacificamente, até a descoberta da traição do homem com uma terceira mulher.
A direção de arte teve participação na tradução do universo de Lispector. "As rosas do jardim mudam de cor, o cenário vai entristecendo. Os detalhes para a felicidade dos personagens também foram muito pensados", diz.
Para Garcia, "O Corpo" foi um marco em sua carreira como cineasta. "Foi um filme no qual eu queria amadurecer. Tinha um grilo de que meus longas anteriores não ficavam redondos em termos de trabalho com atores. Às vezes achava que dirigia melhor os personagens femininos do que os masculinos", afirma.
"O Corpo" foi uma proposta de mergulho em um projeto extremamente profissional. Até a figuração foi composta de atores.
"Evitei chamar amigos porque o filme era muito difícil. Tinha um tom de farsa que se humanizava e, ao mesmo tempo, era irônico. Qualquer deslize na interpretação poderia comprometê-lo."
Novo projeto
Para seu novo projeto, o diretor fará mais uma adaptação de Clarice Lispector. Desta vez, ele vai condensar dois outros contos -"Ele me Bebeu" e "Miss Algraves"- em um filme, que deve chamar "Ele me Bebeu".
Um quarto do filme deve ser rodado em Londres, e Garcia já está em contato com um produtor inglês que se interessou pelo projeto.
"Estou agora inscrevendo o roteiro na Lei Rouanet e na Lei do Audiovisual e espero até o final do ano fechar todos os mecanismos para viabilização do filme."

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