São Paulo, quarta-feira, 1 de maio de 1996
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Largada para a grande luta!

VICENTE PAULO DA SILVA

Antes de mais nada, é importante lembrar que o 1º de Maio não é, como desejam certos segmentos da sociedade, meramente o "Dia do Trabalho", dia de festejos. Mas, sim, um dia de resistência do trabalhador, uma data histórica.
Pois foi em função da luta para melhorar as condições de trabalho e pela jornada de oito horas diárias que, em 1886, nos Estados Unidos, diversos trabalhadores foram massacrados, humilhados e condenados em tribunais da Justiça americana à prisão perpétua e à morte.
E serve para fazermos uma reflexão: os empresários devem compreender a importância dos trabalhadores enquanto produtores e, por conseguinte, como consumidores dos seus próprios produtos. O governo, por sua vez, deve respeitar o trabalhador, pois é ele um leal pagador de impostos e, principalmente, eleitor.
Mais uma vez, estamos nas ruas nos regozijando com as nossas conquistas, mas reclamando do distrato e do desrespeito. É fundamental que se compreendam as contradições do governo, quando adota políticas distantes das necessidades dos trabalhadores.
Ao mesmo tempo em que implementa um plano de estabilização da moeda para controlar a inflação (e isso é algo positivo), adota métodos que fazem com que alcancemos o pior índice de desemprego, 15% somente na Grande São Paulo (dados apresentados pelo Dieese).
Sem muita discussão, como que por um passe de mágica, aparece dinheiro para socorrer banqueiros e ruralistas. E, também sem nenhuma discussão, decidem um dos menores salários mínimos da história.
Neste 1º de Maio tivemos uma péssima notícia anunciada pelo governo FHC, que significa manter milhões de brasileiros na amargura de ter que sobreviver com rendimento que mal dará para cobrir as despesas com a cesta básica preestabelecida por Procon/Dieese.
O salário mínimo atual representa apenas 19% do valor constitucional instituído em julho de 1940. Continuará sendo uma das maiores vergonhas nacionais, a demonstração do descaso do governo com o quadro de miséria e exclusão social e o menor salário entre os países do Mercosul.
A CUT defende que esse salário seja elevado imediatamente para R$ 200 e a definição de metas de correção e aumentos reais até o ano de 2002, quando deveríamos tê-lo com valor aproximado de R$ 585, em valores de hoje, segundo cálculos do Dieese.
A concentração de terras nas mãos de poucos (56% das terras nas mãos de apenas 2,8%), em nosso país, reforça a crise no campo, onde a solução seria a reforma agrária, com uma política agrícola.
A violência alastra-se e, nos últimos dez anos, mais de mil pessoas foram assassinadas em conflitos de terra no Brasil, praticamente todos os casos envolvendo a Polícia Militar e jagunços dos latifundiários. Lembrando ainda que esses últimos dez anos correspondem a um período dito de democracia. Esses dados mostram, por si só, o Brasil em que vivemos.
Que nesse 1º de Maio estejamos todos envolvidos na corrente da cidadania. Compreendendo que, com nossa capacidade de mobilização, unir trabalhadores do campo e da cidade, intelectuais e obreiros, companheiros do setor público e privado no sentido do combate a qualquer ação oriunda do neoliberalismo, do fisiologismo e do capitalismo atrasado é fundamental.
Reclamo, portanto, que, companheiros sindicalistas, das várias tendências e das várias centrais, nos unamos, pois somente unidos seremos fortes, juntos daremos a grande largada para a luta que se avizinha.
Vamos resgatar o 1º de Maio com dignidade e a determinação que é peculiar aos trabalhadores do Brasil. Façamos a grande luta!
Viva a luta dos trabalhadores!

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