São Paulo, quinta-feira, 2 de maio de 1996
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Bispo romeno vê risco à democracia

Minoria húngara estaria ameaçada

DA REPORTAGEM LOCAL

O renascimento do comunismo na Romênia, sudeste da Europa, está pondo em risco os direitos humanos das minorias religiosas e étnicas do país.
A denúncia foi feita pelo bispo Lászlo Tõkés, da Igreja Reformada da Transilvânia -da minoria húngara da Romênia-, em palestra na Folha, no dia 23 de abril.
Tõkés desempenhou um papel central no processo que determinou a queda da ditadura de Nicolau Ceausescu, em dezembro de 1989.
Na gestão de Ceausescu (1965-1989), os partidos políticos e as instituições da sociedade civil foram proibidos de atuar. Um dos poucos canais para a expressão de insatisfação ou de dissidência eram as instituições eclesiásticas.
O bispo Tõkés assumiu a tarefa de defender os interesses da minoria húngara. Sua atividade política serviu de estopim para a crise de dezembro de 1989, a revolta da sociedade civil em Timisoara, na Transilvânia, que chegou a Bucareste, culminando com a derrubada da ditadura e a execução de Ceausescu e de sua mulher.
Em 1990, Tõkés foi eleito presidente honorário da Aliança Democrática dos Húngaros na Romênia, principal força política de oposição no país.
A meta da aliança, que conta com 600 mil membros, é reaver os direitos humanos e constitucionais da minoria étnica húngara da Romênia.
A Romênia tem 23,5 milhões de habitantes. A minoria húngara é formada por cerca de 2,5 milhões de pessoas.
Continuidade
Em sua palestra, Tõkés disse que o regime que se seguiu a Ceausescu, liderado pelo Partido Social Democrata da Romênia, de Ion Iliescu, apresenta traços de continuidade em relação ao regime anterior.
O bispo afirmou que a aliança, que descarta a violência como forma de atuação política, quer a implantação na Romênia de um regime democrático baseado nos sistemas constitucionais, jurídicos e sociais dos países da União Européia.
"Ninguém mais do que nós deseja a democracia na Romênia, porque a democracia é a nossa única chance de reaver nossos direitos como cidadãos do país', disse.
Ele afirmou que pouco mudou no país desde a queda de Ceausescu. "Embora haja no país alguns elementos de pluralismo político, economia de mercado e ordem constitucional, outros apontam para a volta do antigo regime em vez da criação de um Estado constitucional", disse.
O bispo acusa Ion Iliescu de "legitimar" o nacionalismo extremista na política romena.

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