São Paulo, quinta-feira, 2 de maio de 1996
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'Jenipapo' abre mostra em Washington

CARLOS EDUARDO LINS E SILVA
DE WASHINGTON

A produção brasileira "Jenipapo", de Monique Gardenberg, abriu a mostra "Mulheres em Filme e Vídeo", parte do décimo Filmfest DC, o festival internacional de cinema da capital dos EUA, que acontece nesta semana.
Presente na platéia, a famosa líder feminista Betty Friedan disse que "The Interview" (A Entrevista, título em inglês de "Jenipapo") é "soberbo", o melhor filme que ela viu em cinco anos.
Apesar dos elogios e dos fortes aplausos após a apresentação, a diretora disse à Folha que tem dúvidas sobre as chances de "Jenipapo" vir a ser um sucesso de bilheteria nos EUA. "O final aberto e a falta de explicação explícita para o fascínio do repórter pelo padre fogem um pouco do padrão a que o público norte-americano foi acostumado. Mas quero continuar fazendo coisas em que acredito, não o que pode dar certo", disse.
O Filmfest é a segunda experiência de "Jenipapo" nos EUA. A primeira foi na 15ª versão do festival de Sundance, de Robert Redford. Lá, uma das mais importantes distribuidoras de filmes independentes dos EUA acertou a distribuição do filme no país.
A Revista "Variety" publicou crítica simpática ao filme de Gardenberg, dizendo que tem "apelo universal", com elogios ao desempenho dos atores, em especial o elenco de apoio brasileiro.
Identificação
"Jenipapo" tem muita identificação com os EUA. Foi concebido quando Gardenberg estudava cinema em Nova York, os dois protagonistas são norte-americanos radicados no Brasil, a maior parte dos diálogos é em inglês, o produtor (Alan Paul) é um veterano do show-business norte-americano, a trilha sonora foi composta por Philip Glass e a música-tema ("Ignorant Sky") é cantada pela nova-iorquina Suzanne Vega.
Além disso, o filme contém elementos capazes de agradar se não às grandes audiências dos EUA, pelo menos à nada desprezível parcela de intelectuais interessados em problemas do Terceiro Mundo que vivem nos grandes centros urbanos do país: trata de um problema candente na mídia de respeito nos EUA (a questão dos sem-terra), aborda questões existenciais profundas e é de indiscutível bom gosto visual.
Nicho
Inesperados sucessos recentes exploraram esse nicho dos apreciadores de cinema nos EUA ("O Carteiro e o Poeta" e "Babe" são os dois exemplos mais expressivos). É provável que "Jenipapo" (mais que "O Quatrilho", com sua temática talvez regionalista demais e muito menos sofisticação intelectual) possa ter êxito similar.
A carreira de Gardenberg provavelmente continuará sendo internacional. A Propaganda Filmes, uma produtora importante, quer que ela dirija um filme baseado no romance dominicano "No Tempo das Borboletas", de Julia Alvarez, que ela está terminando de ler.

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