São Paulo, quinta-feira, 2 de maio de 1996
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O prefeito e a bobina

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Foi preciso que um escriba paulista escrevesse o melhor comentário sobre a administração do prefeito César Maia. O autor da façanha é Marcelo Coelho, na Folha de S.Paulo de ontem, a propósito do debate com o alcaide carioca no programa "Roda Viva".
Lembrei uma observação de De Gaulle a respeito de Jacqueline Kennedy -divinizada pela falta do que sentir dos americanos. Quando foi apresentado à primeira-dama dos Estados Unidos, no início dos anos 60, Jackie já era considerada uma deusa em versão pagã e capitalista, mistura de Virgem Maria com Marilyn Monroe.
O general profetizou: "Essa mulher ainda vai se casar com um armador grego!". Para De Gaulle, um armador grego era a personificação do cafajeste internacional.
Marcelo Coelho não chegou a tanto. Deu sua impressão sobre a cidade sitiada pelo mau gosto e pela alucinação patológica do Maia. Pessoalmente, eu perdôo a alucinação: é problema de neurônios que merece ser lastimado e tratado clinicamente.
O que não perdôo é o agressivo mau gosto de suas reformas, os eventos que patrocina, a delirante fome de ser notícia. Basta lembrar o que ele fez da memória de Tom Jobim, obrigando os cariocas a não mais suportarem qualquer espécie de tributo ao maior compositor da cidade.
Outro dia, parei num cruzamento da praça José de Alencar. Ia pensando no meus problemas, mas tive pena de um guri no colo da babá. O garoto berrava, aterrorizado, apontando para um poste cravado numa ilha aberta pelo Maia no meio da pista. O poste parece uma girafa desenhada por um marciano, fincado numa base incompreensível, feita de cimento vagabundo e pintada com tinta idem.
Fazendo nexo do general francês com o jornalista paulista, eu poderia concluir que César Maia ainda vai se casar com uma bobina de cabos da Net. Um casamento que todo carioca prevê e amaldiçoa a cada engarrafamento.

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