São Paulo, sexta-feira, 3 de maio de 1996
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Alemães são maioria em hotel do mar Morto

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Na quarta, falou-se neste espaço sobre o livro "Hitler's Willing Executioners: Ordinary Germans and The Holocaust", (algo como, "Os Executores Concordes de Hitler: Alemães Comuns e o Holocausto"), que há duas semanas figura na lista dos mais vendidos do "The New York Times".
Bingo! Como eu havia previsto, a obra, sobre as origens do holocausto, promete dar quilômetros de pano para manga.
A leitora Helga Szmuk, por exemplo, me envia e-mail para dizer que anti-semitismo não é exclusividade alemã: "Se um novo Fuehrer nascesse no Brasil e saísse pregando que a culpa pela miséria é dos judeus, a história se repetiria."
Helga pergunta ainda por que caí no clichê de chamar o alemão de "a língua de Goethe": "Por que não a língua dos judeus Heine, Freud, Marx, Engels, Einstein, Gustav Mahler ou Stefan Zweig?"
Outra leitura, Lea Elisa Silingowschi, cita a professora Anita Novinsky: "Em suas aulas, ela diz que o nazismo não deve ser esquecido, para que não ocorra novamente. Mas não deve ser entendido, porque quem entende perdoa".
As considerações dos leitores a respeito do livro me fizeram pensar sobre uma viagem que fiz a Israel, em 1992.
Para quem não sabe, os hotéis situados à beira do mar Morto servem como estação de tratamento para pessoas que sofrem de psoríase, uma doença da pele que alguns estudiosos dizem ter fundo nervoso, mas cuja origem exata ainda é desconhecida pela medicina.
Oe enxofre das areias do mar Morto e as propriedades minerais da água carregada de sal atenuam o sofrimento de quem é portador da doença.
Pois não é que um dos hotéis mais procurados da região é ocupado, na maioria, por turistas alemães? Sem saber disso me hospedei no tal estabelecimento, cujo nome me escapa.
No dia seguinte, ao atravessar o saguão em direção à lojinha de conveniência, percebi pelo sotaque, que estava rodeada de alemães. Na loja, a vendedora atendia um turista com polidez, mas com extrema frieza. Assim que ele saiu, bombardeei a moça de perguntas: alemães, aqui? O cozinheiro não cospe no bife deles? Que história é essa? E ela, muito da pragmática, me disse: "Agora eles precisam de nós e fazemos questão de esfregar isso na cara deles", revelou. "É uma forma de vingança". Eu, hein!

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