São Paulo, sexta-feira, 3 de maio de 1996
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BOM PARA OS OLHOS

O governo federal vem anunciando, como uma de suas principais metas na área de educação, a valorização do ensino fundamental -que vai da 1ª à 8ª série. Em tese, esse propósito é louvável à medida que expressa a necessidade de reforçar uma etapa fundamental do desenvolvimento escolar, na qual aliás se concentram os principais problemas do sistema educacional brasileiro.
Ao tentar implementar essa meta, porém, o Ministério da Educação infelizmente parece ainda vulnerável a um vício manifesto em muitas políticas sociais do setor público, que consiste em perder de vista o essencial e ocupar-se de ações mais vistosas do que propriamente eficazes.
É por essa via que parece caminhar a proposta -ainda em estudos- de antecipar em um ano a entrada do aluno no ensino fundamental, aumentando de oito para nove anos o tempo de permanência no 1º grau.
Em que pese a importância que teoricamente possa ter para um sistema de ensino que já tivesse superado suas principais mazelas, o que obviamente não é o caso do Brasil, a proposta parece no mínimo inócua em relação aos principais males de que padece o ensino fundamental no país: os elevados índices de repetência e de evasão escolar; isso sem falar na péssima qualidade do ensino ministrado. No quadro calamitoso da escola pública no Brasil, nada garantiria que essas anomalias não ocorreriam também na nova série inicial do 1º grau. Muito pelo contrário.
A eficiência de um sistema de ensino não mantém qualquer relação direta e necessária com o número de horas-aula ou de séries cursadas. Oferecer ensino gratuito logo aos seis anos de idade poderá resolver o problema de quem não tem onde deixar seus filhos na hora de trabalhar, o que é certamente desejável, mas não contribui para garantir, no sistema atual, um nível de qualidade de ensino minimamente aceitável, que é o grande desafio do Brasil.

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