São Paulo, segunda-feira, 6 de maio de 1996 |
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Brasileiro reflete sobre cultura americana
JOSÉ GERALDO COUTO
Pelas 231 páginas do volume, que a editora Iluminuras lança nesta semana, desfilam depoimentos de 19 personalidades de destaque na cultura contemporânea dos EUA. Elas foram entrevistadas por Garcia Lopes entre 1990 e 1992, período em que o autor -que é tradutor e poeta- fazia mestrado em Humanidades Interdisciplinares na Arizona State University. Algumas dessas entrevistas foram parcialmente publicadas na Folha, outras em "O Estado de S. Paulo", outras ainda nas revistas norte-americanas "Zone" e "Millenium Film Journal". Interdisciplinar Interdisciplinar é a palavra-chave para qualificar não só o leque de entrevistados -escritores, músicos, artistas plásticos, críticos-, como também para definir cada um deles individualmente. Pois um homem como John Cage não é apenas um músico, mas também um poeta e um filósofo. William Burroughs não é só romancista, mas igualmente ator e artista plástico. Laurie Anderson é (ou se diz) cantora, atriz, poeta e cineasta -e assim por diante. A imagem que o livro apresenta da cena cultural é borrada e fugidia. Mas assim é a cultura norte-americana hoje: fragmentária, híbrida, ilusória, fugaz. Uma cultura ao mesmo tempo superficial e pulsante, em que o conceito de "performance" -não por acaso, uma das palavras mais repetidas nas entrevistas, ao lado de "pós-moderno"- está no centro de tudo. Como é inevitável numa "assemblage" dessa natureza, há ausências lastimáveis (o próprio autor cita as de Francis Coppola e Frank Zappa) e uma irregularidade intrínseca. Por inclinação pessoal, Garcia Lopes privilegiou, por exemplo, a literatura "beat". Quatro dos 19 entrevistados estiveram ligados ao movimento: William Burroughs, Lawrence Ferlinghetti, Allen Ginsberg e Michael McClure. Opções são sempre discutíveis, mas por que não, em lugar de um dos "beats", entrevistar um romancista como Richard Ford ou Philip Roth ou mesmo o mais pop Paul Auster? Por que não um cineasta como Spike Lee? A vertiginosa lucidez de John Cage, a radicalidade política de Allen Ginsberg, a consciência estética de Chick Corea, a ironia de Roy Lichtenstein são momentos luminosos desse livro, de resto repleto de confusão e alguma mistificação. A impressão que se tem, ao final da leitura, é que a cultura norte-americana, embora desorientada, ainda orienta a cultura do mundo. Livro: Vozes e Visões - Panorama da Arte e da Cultura Norte-Americana Hoje Autor: Rodrigo Garcia Lopes Preço: R$ 29 Texto Anterior: Brasil e Paraguai na breve história do tempo Próximo Texto: FRASES Índice |
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