São Paulo, segunda-feira, 6 de maio de 1996
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PERDA SINTOMÁTICA

O sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, tornou-se nos últimos anos, com alguma razão, o personagem quase emblemático de uma atitude mais pragmática em relação às demandas sociais imediatas do país.
Em que pese os efeitos inevitavelmente limitados de campanhas como a de combate à fome, fundadas muito mais num incansável voluntarismo do que em projetos regulares e consistentes de longo prazo, as iniciativas de Betinho têm sido quase sempre marcadas, no mínimo, por uma aguda sensibilidade em relação às privações mais clamorosas de que padecem as populações de baixa renda e as minorias no Brasil.
Por isso, seu desligamento do conselho do Programa Comunidade Solidária, anunciado na quinta-feira, oferece mais um inquietante sintoma da mal que atinge as poucas ações do governo na área social: a falta de arrojo na implementação de uma política emergencial que atue, com rapidez e precisão, no sentido de eliminar as mais dramáticas e imediatas carências de setores sociais abandonados pelos últimos governos.
Independentemente do mérito das críticas feitas pelo sociólogo ao ministro José Serra e ao programa Pró-Emprego, sua saída do Comunidade Solidária parece explicitar (ou, no mínimo, simbolizar) uma incompatibilidade entre as tímidas metas perseguidas pelo governo federal e uma postura mais sensível -e por conseguinte mais assertiva- em relação à inadiável tarefa de resgatar a escabrosa dívida social brasileira.
Ao manifestar, com a habitual contundência, sua indignação quanto à falta de um plano "factível, concreto, audacioso" para enfrentar essa dívida, Betinho parece ter claro que o preço a ser pago pela atual inércia do governo será a deletéria proliferação dos Eldorados de Carajás, Carandirus, Candelárias, Corumbiarás e Caruarus por esse Brasil afora.

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