São Paulo, terça-feira, 7 de maio de 1996
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Abrir e perder

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Em visita à China, faz pouco, o presidente da Rhodia, Edson Vaz Musa, viu um camelô oferecer duas camisetas ("t-shirts") por US$ 1.
Não teve coragem de pechinchar, mas um turista norte-americano o fez e levou três por esse preço, o que dá uns US$ 0,33 cada camiseta.
Musa conta que só o algodão que entra na fabricação dessa camisa custaria algo em torno de US$ 0,30. Se isso não é "dumping" (vender pelo preço de custo ou até menos), o que é "dumping" então?
Esse fato ajuda a explicar porque, entre 1990 e 1995, beirou o genocídio o número de óbitos nas empresas têxteis brasileiras. Das 5.158 que existiam então, restam 3.700.
Consequência inevitável: o número de trabalhadores do setor caiu de 832.020 para 393.824, conforme dados do mais recente número da revista "Notícias", da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo.
Uso 1990 como referência por ser de alguma forma o marco da abertura da economia. No caso têxtil, as alíquotas de importação caíram de 40% para 18%, nos tecidos, de 50% para 20%, nas confecções, e de 20% para 14%, nos fios.
Não se trata de propor o fechamento do país, de novo, até porque é impossível.
Trata-se de discutir o que deveria ter vindo junto com a abertura. Juros, por exemplo. São, no exterior, substancialmente mais baixos. Câmbio, outro exemplo. Basta comparar preços no Brasil e no exterior. Quando comprar roupas em cidades caras como Bruxelas e Paris, por exemplo, torna-se atraente é porque o câmbio no Brasil tem alguma incorreção.
O terceiro problema é o das camisetas a US$ 0,33. O Brasil não tem defesa contra esse tipo de "dumping".
Competir nesse ambiente é como enfrentar o Palmeiras com o time reserva. Só pode terminar na carnificina que as estatísticas constatam.

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