São Paulo, quarta-feira, 8 de maio de 1996
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Novo ministro contrata sem carteira

GEORGE ALONSO
ENVIADO ESPECIAL A PATOS DE MINAS

O novo ministro da Agricultura, Arlindo Porto Neto, 51, que toma posse hoje às 10h em Brasília, tem pelo menos três trabalhadores rurais em situação ilegal de trabalho em sua fazenda em Patos de Minas (400 km a sudoeste de Belo Horizonte, Minas Gerais).
No último 1º de maio, dia do Trabalho, a Folha visitou sua fazenda de 153,4 hectares, chamada Mata dos Fernandes.
Lá, flagrou os lavradores Manoel Mauro Cruzeiro, 31, Joveniano Augusto de Souza, 40, e Pedro Moreira Lima, 35, sem registro na carteira do trabalho, carpindo há cerca de 15 dias o cafezal.
A fazenda tem 98 mil pés de café, que ocupam 35% da área. Porto tem ainda 50 cabeças de gado de engorda, que depois é vendido.
Os três lavradores foram chamados para limpar o mato, como preparativo da área para o período de colheita, que vai de junho a agosto.
'Por alguns dias'
Segundo o capataz Antonio "Marcão" Moreira de Lima, o trabalho iria se estender "por mais alguns dias. É trabalho curto, não precisa de carteira", disse.
Segundo ele, cada um iria receber o equivalente a R$ 7,00 por dia.
Os três trabalhadores rurais afirmaram que não são cooperativados e também não são vinculados a uma empresa de mão-de-obra.
Pela lei 5.889/73 (regula o trabalho no campo), é empregado rural toda pessoa física que presta serviço de natureza não-eventual a empregador rural, mediante salário.
Consultados pela Folha, três advogados especializados em trabalho rural consideram que a situação configura uma ilegalidade.
"Não é uma eventualidade. É ilegal. Os trabalhadores estavam exercendo, com continuidade, atividade própria da empresa, que é a produção na terra", disse Octavio Bueno Magano, chefe do departamento de direito do trabalho da Faculdade de Direito da USP.
"O que se configura é relação de emprego por tempo determinado. Tem de assinar a carteira, conforme o artigo 433 da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho)", afirmou o professor de direito do trabalho da USP João Carlos Casella.
O presidente do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) de São Paulo, Rubens Tavares Aidar, foi direto: "A ilegalidade é total. Infelizmente, é comum no campo".
"Gato"
Na colheita de café, Porto usa pelo menos 60 bóias-frias, pagando cerca de R$ 3,50 por saca de 60 kg.
Um "gato", Baltasar Teodoro dos Santos, arregimenta os trabalhadores para a fazenda. A atividade do "gato" (agenciador) é recriminada pelo direito trabalhista.
Até 1994, a fazenda não costumava registrar todos os trabalhadores, admitiu o "gato".

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