São Paulo, quarta-feira, 8 de maio de 1996
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'Não se pode dizer que houve execução', afirma legista do PA

ESTANISLAU MARIA; CRISTINA GRILLO
DA AGÊNCIA FOLHA EM BELÉM E DA SUCURSAL DO RIO

Os resultados das autópsias nos 19 mortos no massacre de Eldorado do Carajás (PA) apontam que dois sem-terra foram baleados à queima-roupa, quatro morreram com golpes de foice, machado ou faca, e um recebeu três tiros nas costas.
Devido à precária estrutura da Polícia Civil do Pará, a entrega dos laudos, marcada para ontem, foi adiada outra vez, mas o legista Gervázio Souza Filho, do Instituto Médico-Legal de Belém, adiantou alguns resultados.
"Examinamos os corpos em Marabá 18 horas depois do conflito. Não podemos afirmar as condições das mortes e não podemos acusar se houve execuções sumárias", disse o legista.
Segundo Souza, o legista Nelson Massini foi precipitado nas entrevistas que deu após os primeiros exames, quando disse ter ocorrido "execução sumária" e marcas de extrema violência.
"Essa extrema violência não se confirma nos exames, porque os corpos não têm marca de espancamento ou de terem sido presos, algemados ou até mesmo arrastados", disse.
Apesar de dizer que não houve "extrema violência", o legista do Pará reconheceu que quatro trabalhadores sem terra foram mortos com armas cortantes e não com tiros. Isso indica que os sem-terra poderiam ter sido mortos depois de terem sido dominados, pois inicialmente nenhum soldado portava facas.
O legista também admitiu que há pelo menos um morto com três tiros pelas costas, um com tiro no coração, outro com tiro no pescoço e um com tiro à queima-roupa no rosto.
Massini
No Rio, o médico legista Nelson Massini, 48, disse que os laudos dos sem-terra mortos em Eldorado do Carajás confirmam o que ele havia dito após examinar os corpos.
"O que eu declarei, eles não desmentem. Ele (Souza) diz que houve dois mortos com tiros à queima-roupa, quatro mortos por ferimentos com armas brancas, um morto com três tiros nas costas, e um com um tiro de fuzil nas costas. O que é isso, além de execução sumária?", declarou Massini.
O médico-legista disse que não afirmou ter encontrado sinais de tortura nem corpos "trucidados" -afirmações que lhe foram atribuídas por Souza. Segundo Massini, que examinou os corpos dois dias após a chacina, não havia mais condições de constatar se houve tortura.
"Os corpos já estavam em adiantado estado de putrefação, o que impossibilita a constatação de tortura. E nunca usei o termo 'trucidado', até porque esse termo não existe na medicina legal", afirmou.
Massini, que considera as críticas "pessoais", disse que todas as declarações que fez em Belém tomaram como base uma análise dos corpos feita com os legistas do IML local.
(ESTANISLAU MARIA e CRISTINA GRILLO)

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