São Paulo, quarta-feira, 8 de maio de 1996
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Casal afirma ter apanhado da polícia

DA REPORTAGEM LOCAL

O casal Luzia Estevão Pereira, 25, estudante, e Sérgio Adalberto Garcia, 23, diagramador, afirma ter apanhado da polícia durante um festival de reggae, no último domingo, no parque Ibirapuera (zona sul de São Paulo).
Na mesma noite, a moça foi presa em flagrante, acusada de desacato à autoridade, e solta após pagar fiança de R$ 100. A polícia nega as agressões ao casal.
Luzia diz ter levado um soco na boca, por trás, enquanto tentava defender o namorado de dois policiais que o batiam. Ela não sabe quem a agrediu.
Segundo ela, cerca de sete policiais queriam retirá-los de uma área entre as arquibancadas e a pista, de onde viam o show através de uma grade. Esperavam que a entrada para a pista fosse liberada. Estavam com eles duas primas de Sérgio, Kátia e Neiva Pinheiro.
"Eu disse que o local era público e eu não tinha que sair dali. Eles ficaram muito nervosos e começaram a empurrar a gente", diz Luzia. Como o grupo resistiu, os policiais teriam batido em Sérgio.
Queixa
Os quatro foram levados ao posto da polícia, onde o sargento da polícia militar Gervásio Silveira registrou queixa contra a garota por desacato à autoridade.
"Chegaram a me perguntar se queríamos ou não ir para o DP. Só depois é que o policial surgiu com um arranhão dizendo que tinha sido eu", diz Luzia. Silveira afirma que a moça o agrediu e o xingou.
"Não fiz nada disso. Só lembro que gritava e chorava com medo do que fossem fazer com o Sérgio. Não xinguei nem bati nele."
Apesar de também apresentar lesões, Sérgio foi ouvido apenas como testemunha. Nenhuma queixa foi apresentada contra ele nem contra as primas, que não foram agredidas. Para Luzia, o fato demonstra a má fé dos policiais.
"Se fui eu quem desacatou o policial, porque bateram no meu namorado?", diz Luzia.
O casal fez exame de corpo delito e vai processar os policiais. "Estou disposta a provar que, de vítima, fui transformada em agressora."
Ameaças
Luzia afirma ter sido ameaçada duas vezes pelos policiais, que a separaram do namorado e das amigas antes de levá-la ao delegado.
Segundo ela, um policial a teria prensado contra a parede e ameaçado. "Ele disse que eu corria risco, pois não sabia o que eu fazia nem com quem estava falando."
Enquanto esperava para prestar depoimento, Luzia diz que foi ameaçada novamente por policiais femininas. "Elas me perguntaram porque eu estava chorando. Se eu não tivesse motivo, elas iam me arrumar um", diz Luzia.
Segundo ela, o delegado, Levy d'Oliveira, que registrou a ocorrência, não deu importância a suas queixas de agressão. "Ele me disse que policiais eram pessoas como eu e que podiam sair do normal."

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