São Paulo, quarta-feira, 8 de maio de 1996
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Ajudando a decidir

ANTONIO BARROS

ANTONIO BARROS DE CASTRO
DE CASTRO

Na percepção dominante nos centros mundiais, a economia brasileira passou rapidamente de ovelha negra a estrela dos mercados emergentes.
A empresa que se interessa pelo mercado brasileiro deve, preliminarmente, decidir como explorar o potencial recentemente revelado. As opções são, em princípio, exportar para o país, licenciar o uso de técnicas, marcas etc., ou aqui investir.
Exportar para o país é uma opção bastante atraente, dado que o mercado local começa apenas a ser penetrado e os produtores domésticos encontram-se, em muitos sentidos, defasados.
Além do mais, tendo em muitos casos construído capacidade produtiva à frente da demanda, numerosas empresas se vêem hoje, especialmente na Europa e no Japão, às voltas com instalações subutilizadas e pressões políticas no sentido da criação de empregos.
Mas exportar implica também manter-se relativamente à margem das mudanças em curso no país. Ou seja, não deitar raízes numa experiência que pode vir a revelar-se de grande importância. Seguramente, essa não é uma opção tranquilizante.
A hipótese do licenciamento, nos moldes clássicos pelo menos, parece ser hoje muito menos atraente do que no passado.
Quando mais não seja, porque a inovação vai se tornando um processo quase contínuo e altamente interativo -o que requer relacionamento estável e (desejavelmente) íntimo entre provedores e usuários de novas idéias. Isso, pois, nos leva a ter em conta a opção investimento.
Aqui, de novo, abrem-se várias possibilidades. Investir pode significar começar do zero ou, alternativamente, escolher um parceiro promissor e partir para empreendimentos conjuntos. Pode também significar a compra e fusão de empresas.
Afinal, ainda quando tecnologicamente obsoletos, os produtores locais possuem conhecimento do mercado, além de outros ativos não-tangíveis que podem se revelar bastante interessantes.
Como é fácil imaginar, as opções que acabam de ser listadas não são indiferentes para o país. Tomemos o caso do investimento direto, mediante o erguimento de novas plantas.
À primeira vista, parece ser a melhor das soluções, do ponto de vista da economia em seu conjunto -e pode, de fato, sê-lo. Se, contudo, a decisão for precipitada a partir de uma guerra ou leilão de benefícios entre as possíveis áreas candidatas, há pelo menos que ter em conta o seu custo fiscal.
Nesse caso, aliás, a suposta e proclamada despolitização das decisões, professada ao nível da União, estaria sendo negada em outras esferas de poder.
Por outro lado, uma solução desse tipo tende a maximizar a ruptura com a experiência pregressa. É isso realmente o que se deseja?
Talvez o seja, desde que haja substanciais razões para supor que o novo investimento será capaz de desencadear outras decisões positivas -e, muito concretamente, que o pioneirismo não seja um pretexto a justificar a manutenção de compromissos de provimento a partir do exterior.
A realização de joint ventures, por sua vez, pode ser altamente interessante para o país. Seja pelo elevado grau de aproveitamento do conhecimento aqui acumulado, seja pelo maior e melhor acesso ao know-how de empresas de fora do país ou mesmo porque se trata, em princípio, de uma avenida de duas mãos a facilitar o acesso a mercados externos.
A fusão também pode ser interessante, sobretudo ali onde são baixas as possibilidades de sobrevivência: há áreas em que a obsolescência tecnológica do produtor doméstico é praticamente irrecuperável.
O que precede deixa claro que a súbita ascensão do Brasil ao estrelato entre os chamados mercados emergentes está precipitando decisões que equivalem a mudanças de estratégia por parte de empresas sediadas no exterior.
Elas estão decidindo imersas em dúvidas, havendo, seguramente, espaço para que as suas opções sejam influenciadas sem que a lógica econômica seja agredida.
Em outras palavras, dentro do intervalo de indeterminação ocupado pelas suas incertezas, a mão invisível do mercado tem que ser ajudada pela mão visível dos entendimentos.
Talvez por isso mesmo venha ganhando tanta projeção o esforço de Estados e municípios visando atraí-las. Mas fica cada vez mais evidente que o país carece de uma discussão dessa temática, que tenha por referência os interesses da sociedade como um todo.

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