São Paulo, quarta-feira, 8 de maio de 1996
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Babenco fala sobre cinema de Bergman

DA REPORTAGEM LOCAL

Cerca de 200 pessoas assistiram anteontem à noite, na sala Cinemateca, ao debate sobre o filme "Cenas de um Casamento", de Ingmar Bergman.
O evento, promovido pela Folha em conjunto com a Cinemateca Brasileira e a produtora Total Cinema, abriu o ciclo "Sete Vezes Bergman", que vai até dia 12.
O cineasta Hector Babenco, o psicanalista Luiz Tenório de Oliveira Lima e a diretora teatral Vivian Buckup falaram sobre aspectos diversos da obra de Bergman.
Tenório de Lima falou sobre o luteranismo e suas implicações no universo dramático de Bergman. Segundo ele, as obras do diretor sueco expressam a "angústia da liberdade" sofrida pelo homem contemporâneo.
"Temos ao mesmo tempo a nostalgia da autoridade e a ânsia da liberdade -só que não suportamos as consequências dela", disse o psicanalista.
Depois de falar da carência de uma aprendizagem emocional por parte do indivíduo contemporâneo, Tenório de Lima lançou a pergunta: "Seriam os psicanalistas os gramáticos dessa nova língua, a língua das emoções?". Ele mesmo respondeu que não. "Os artistas se aproximam mais da expressão dessas inquietações."
Babenco falou de sua experiência pessoal com o cinema de Bergman. Segundo ele, o primeiro filme que viu do diretor, ainda na adolescência, foi "Mônica e o Desejo".
"Fui ver porque tinham me dito que era filme erótico e saí muito frustrado, porque não vi nenhum peito, nenhum bumbum", disse.
"O segundo filme de Bergman que vi foi 'O Sétimo Selo', que significou para mim uma abertura para o universo da Idade Média." Babenco disse que ficou perplexo com o mundo nórdico e existencial de Bergman. "Eu estava preocupado com a revolução socialista, e de repente vinha esse sueco e se perguntava se Deus existe."
O cineasta concluiu dizendo: "Meu cinema não tem nada a ver nem com os temas dele, nem com a estética, nem com a dramaturgia, mas os filmes dele têm a ver com a minha vida".
Vivian Buckup, diretora da montagem brasileira da peça "Cenas de um Casamento", que estréia dia 30, destacou a delicadeza com que Bergman trata a busca de seus personagens pela liberdade. "Ele tem um carinho tão grande que acaba construindo com seus personagens uma relação a três."
Segundo ela, o autor fez o texto da peça "de forma muito cinematográfica", em que é impossível escapar do close. "Procuramos nos aproximar disso no teatro."

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