São Paulo, quarta-feira, 8 de maio de 1996
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Stocklos ataca TV e novelas

FERNANDO DE BARROS E SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

O evento "O Teatro Essencial", realizado anteontem à noite no auditório da Folha, começou com uma explicação didática de sua proposta teatral e foi se tornando aos poucos um longo depoimento pessoal da atriz e dramaturga Denise Stoklos.
Diante de uma platéia de mais de 100 pessoas, na maioria estudantes de teatro, Stoklos, 45, iniciou definindo seu "teatro essencial" de forma negativa. É possível, disse, "fazer teatro sem concepção de cenografia, sem figurino, sem trilha sonora ou iluminação especial". A seguir, foi ao ponto: "Só não é possível fazer teatro sem o ator, com sua voz, seu trabalho corporal e a organização desses dois elementos".
O "teatro essencial", nas palavras da atriz, articula essa concepção formal a uma "aproximação política dos temas, em que o ego do ator funciona como emissor de experiências coletivas e não como fonte de vivências pessoais".
Estavam presentes à mesa de debatedores a jornalista Suzy Capó, estudiosa do teatro de Stoklos, o diretor e ensaísta Fernando Peixoto e o repórter da Folha Nélson de Sá, mediador do encontro.
Capó disse que gostaria de ver a viabilidade do "teatro essencial", enquanto técnica de encenação, testada por alguém que "não tem os recursos pessoais de Denise". "Gostaria de ver o teatro essencial protagonizado por Regina Duarte com um texto de Danuza Leão", disse a jornalista, referindo-se a um projeto em curso que será dirigido pela própria Stoklos.
Peixoto destacou que a forma com que a atriz "usa a palavra e o corpo, em todas as suas contradições e desdobramentos", não resultam num trabalho abstrato, de beleza puramente sensorial. Pelo contrário, disse, "Denise discute a realidade política mais imediata, toca fundo na injustiça, num confronto com a realidade extremamente inventivo e poético".
Frisando a todo instante que a sua é uma posição "de contestação", Stoklos disse ficar "pasma" ao ver sua geração "convertida ao conformismo neoliberal".
A TV e as novelas foram seus alvos durante o encontro. "A telenovela é um desperdício, é ofensiva, maltrata o ator, exige uma vulgarização da atuação à qual ele acaba se habituando", disse.

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