São Paulo, quarta-feira, 8 de maio de 1996
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Leary quer mostrar suicídio na Internet

MARINA MORAES
ESPECIAL PARA A FOLHA,

É curioso observar até onde vai o fascínio dos norte-americanos pela mídia.
A fronteira entre o que é particular e o que é público foi totalmente remarcada pela televisão, quando passou a expor a intimidade das pessoas nos "talk shows confessionários".
Ali, os convidados detalham seus dramas pessoais para uma audiência de milhares de telespectadores.
Essa atração nacional pela mídia agora inclui o capítulo "Internet", que vai ainda mais longe, criando a ilusão da privacidade em um território absolutamente público.
Muitas páginas eletrônicas estimulam os navegadores solitários a falarem sobre assuntos pessoais, e as revelações que flutuam pela rede são constrangedoras. Um prato cheio para os voyeurs virtuais.
Diversão sanguinária
E estamos só começando. A última palavra em entretenimento na Internet promete um show que nem os mais sanguinários produtores de TV poderiam montar.
Está escrito na página de Timothy Leary na World Wide Web.
Esse senhor de 75 anos planeja transmitir seu suicídio via computador.
Leary, ex-hippie com grande bagagem de consumo de drogas, guru dos malucos-beleza dos anos 60, está morrendo de câncer na próstata.
Ele decidiu tornar pública sua luta contra "a dor e a indignidade resultantes da doença".
Em sua página, faz um relato diário de quantos cigarros fumou, quanto de maconha, cocaína e remédios consumiu até aquele momento.
Recostado na cama entre um tanque de oxigênio e o computador Macintosh, esse ex-professor de Harvard que nos anos 60 protestava contra a vida burguesa da elite americana, já esteve preso, fugiu, fez apologia das drogas e, finalmente, tornou-se um "profeta da tecnologia New Age", descreve a Web, com sua rede de realidades alternativas, como o LSD do próximo século.
A idéia de Leary é tomar um coquetel fatal de comprimidos diante de uma câmera de vídeo, transmitindo o que chama de suicídio interativo.
Para ele, "a capacidade da Internet de derrubar barreiras e criar novos mundos é ideal para receber os últimos momentos de alguém nessa dimensão da existência".
As reações na Internet são as mais diversas. Há desde roqueiros compondo música virtual para Leary (alt.rock-n-roll.oldies) até gente lançando pesquisa: "Deve Timothy Leary transmitir seu suicídio pela Internet?".
O resultado até agora: 472, sim; 432, não.

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