São Paulo, quarta-feira, 8 de maio de 1996
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'É improvável que Israel tenha errado', diz a ONU

ANGÉLICA BANHARA
DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

As Nações Unidas reforçaram ontem a suspeita de que o bombardeio de Israel a uma base da ONU no sul do Líbano foi deliberado, mas evitou descartar totalmente a hipótese de que um erro técnico tenha ocorrido.
A organização divulgou ontem o relatório sobre o incidente.
"Ao mesmo tempo em que a possibilidade não pode ser totalmente descartada, é improvável que o bombardeio do complexo da ONU tenha sido resultado de grandes erros técnicos e/ou de procedimento", dizia o relatório. Os EUA criticaram o conteúdo do relatório, dizendo que ele continha "conclusões injustificadas".
No dia 18 de abril, Israel bombardeou a base da ONU em Qana (sul do Líbano), em que estavam mais de 500 refugiados. Pelo menos 102 pessoas morreram no ataque.
Segundo o relatório, ao contrário das negativas do governo israelense, dois helicópteros e um avião de reconhecimento (sem piloto) de Israel estavam na área de Qana na hora do bombardeio.
A presença do avião foi revelada por um vídeo feito por um soldado da força de paz a cerca de 1,6 km da base. Israel diz que o avião só partiu depois do fim do bombardeio.
Segundo seus achados, dois ou três guerrilheiros do Hizbollah (que haviam atacado pouco antes) entraram na base da ONU, onde estavam seus familiares. O relatório não diz se os guerrilheiros entraram antes ou depois do ataque.
Horas antes da divulgação do relatório, o chanceler de Israel, Ehud Barak, disse que as declarações das Nações Unidas no documento eram absurdas. Segundo ele, o relatório usaria a palavra "deliberado" para se referir ao ataque. O relatório não usa a palavra.
Barak afirmou ter telefonado para o secretário-geral da ONU, Boutros Boutros-Ghali, para protestar contra as acusações do relatório.
O chanceler disse que falou para o egípcio Boutros-Ghali que elas poderiam "estragar as relações entre Israel e a força da ONU".
Aviso
O primeiro-ministro de Israel, Shimon Peres, disse ontem que a ONU deveria ter avisado o país de que abrigava civis libaneses.
"Não fazíamos a menor idéia. Considero um escândalo que eles, sem avisar, tenham permitido que o Hizbollah usasse a base da ONU para esconder seus familiares."
A afirmação foi feita ontem durante debate via satélite, na Sétima Conferência Anual dos Colaboradores do CNN World Report, em Atlanta, na Geórgia (EUA).
"As pessoas se esquecem da história. Os israelenses foram bombardeados durante sete dias e sete noites antes de decidir pelo ataque. Agimos em legítima defesa", disse.

Colaborou Angélica Banhara, enviada especial a Atlanta (EUA)

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