São Paulo, quarta-feira, 8 de maio de 1996
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ONU julga crime de guerra após 50 anos

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Começou ontem em Haia (Holanda) o primeiro julgamento internacional de crimes de guerra em 50 anos.
O sérvio Dusan "Dusko" Tadic é acusado de atrocidades contra bósnios e croatas pelo tribunal da ONU que investiga crimes de guerra na ex-Iugoslávia.
Tadic (pronuncia-se "taditch") é a primeira pessoa a ser julgada por um tribunal internacional desde os julgamentos de Tóquio e Nurembergue (Alemanha), após a Segunda Guerra Mundial.
Ele é acusado de matar, torturar e estuprar muçulmanos na região de Prijedor, noroeste da Bósnia. O julgamento deve durar vários meses. Mais de cem testemunhas devem ser ouvidas.
'Limpeza étnica'
O promotor Grant Niemann, um australiano, afirmou que os sérvios da Bósnia instauraram o terror na região de Prijedor, com o objetivo de afugentar muçulmanos e croatas e tomar posse do território.
Segundo Niemann, o tribunal vai analisar eventos de "horror indizível".
A promotoria afirma que Tadic, proprietário de um bar, visitou por iniciativa própria três campos -Omarska, Keraterm e Trnopolje- para onde a população muçulmana e croata foi levada.
Tadic era policial da reserva, mas não tinha vínculos formais com o exército dos sérvios da Bósnia.
Niemann afirmou que, aparentemente, os crimes foram cometidos com a aprovação tácita do Exército iugoslavo e de milícias sérvias.
O acusado foi preso na Alemanha em fevereiro de 1994, depois que refugiados o reconheceram. Desde então, aguardava julgamento na prisão.
Na sala do tribunal, Tadic acenou para uma pessoa que assistia o julgamento das galerias enquanto a juíza americana Gabrielle Kirk McDonald abria os trabalhos.
Defesa
Um dos advogados de Tadic, Michail Wladimiroff, disse que ele não teve qualquer participação nos crimes ocorridos nos campos de prisioneiros.
Wladimiroff diz que a defesa não vai contestar o fato de que os muçulmanos e croatas da Bósnia sofreram, mas, segundo ele, Tadic seria vítima do desejo de se encontrar um bode expiatório.
"A sede de vingança não deve ser satisfeita no poço da Justiça poluída", afirmou.
O tribunal aceitou o pedido da defesa de que algumas testemunhas possam depor via satélite da Bósnia. Algumas das testemunhas de defesa temem ser presas pelo tribunal da ONU se forem a Haia depor. Tadic havia ameaçado entrar em greve de fome se a autorização não fosse concedida.

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