São Paulo, quarta-feira, 8 de maio de 1996
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COMUNIDADE SOLITÁRIA

Saiu mais um dos membros da sociedade civil que integrava o Comunidade Solidária. Desta vez é José Eduardo Durão, fundador da Associação Brasileira de ONGs, que segue os passos de Herbert de Souza, o Betinho, e do comediante Renato Aragão, que haviam renunciado antes.
Ineficaz é talvez a palavra para qualificar os resultados do programa. Apresentado como solução inovadora para a questão social, o Comunidade Solidária mostrou-se, até agora, tão frustrante quanto outros organismos semelhantes ou outros slogans inventados por sucessivos governos para a área social.
Quando o presidente diz que "o país cansou de belos gestos, que não têm consequência", está, na prática, fazendo uma autocrítica.
Levando-se em conta ainda que o Comunidade Solidária queria desde o início redefinir as relações entre as várias iniciativas do governo na área social, ou seja, pretendeu desempenhar uma função de coordenação, é inevitável constatar que o governo não coordena nem sequer o que faz.
O país cansou-se também de belas palavras, igualmente sem consequências, como, por exemplo, as que o próprio FHC pronunciou na posse, erigindo a questão social como sua prioridade número zero.
É fato que a estabilização de preços tem fortes efeitos sociais e redistributivos, mas a dívida social acumulada é tamanha que, ao mesmo tempo, a própria estabilidade torna ainda mais visível essa herança.
Até um dos mais próximos auxiliares do presidente, o ministro das Comunicações, Sérgio Motta, já havia definido, grosseiramente, como "masturbação sociológica" o que se fazia até o ano passado no setor. Prova de que o descontentamento com a impotência ou inação atingia até os governistas mais fiéis.
Agora, o quadro se agrava, posto que os representantes da sociedade civil vão abandonando o Comunidade Solidária, um após o outro. Fica a impressão de que o governo está cada vez mais solitário nessa área.

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