São Paulo, sábado, 11 de maio de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

China redescobre prazeres de Hollywood

JAIME SPITZSCOVSKY

JAIME SPITZCOVSKY
DE PEQUIM

Censura do país faz restrições ao imperialismo de 007 e 47,6% do público chora com "As Pontes de Madison"

Os cinemas da China, castigados nos últimos anos pela queda de público e concorrência com outras opções de lazer, conseguiram em 1995 reverter a tendência e registrar uma arrecadação recorde com a venda de ingressos. Motivo: exibição de filmes estrangeiros, principalmente norte-americanos.
No ano passado, nove filmes estrangeiros, entre eles "True Lies", "Forrest Gump" e "O Rei Leão", responderam por 40% dos recursos arrecadados com a venda de ingressos em Pequim. Os 71 cinemas da capital chinesa em 1995 exibiram 269 filmes.
Neste ano, "As Pontes de Madison", uma história de amor com os atores Clint Eastwood e Meryl Streep, carrega por enquanto o rótulo de maior sucesso entre filmes estrangeiros. Uma pesquisa mostrou que 47,6% dos espectadores choraram durante o filme, que começou a ser exibido no dia 19 do mês passado.
As bilheterias dos cinemas de Pequim recolheram no ano passado cerca de 88 milhões de yuans (US$ 11 milhões), contra 49,8 milhões de yuans (US$ 6 milhões) em 1994.
Xangai, a maior cidade da China, também bateu um recorde. Seus cinemas arrecadaram em 1995 US$ 27,7 milhões, contra US$ 16,9 milhões no ano anterior.
"Forrest Gump", premiado com Oscar no Ocidente, alcançou menos sucesso nas telas chinesas e não repetiu as filas de "True Lies". O ator Tom Hanks e as trapalhadas de seu personagem não ofereceram ao público as mesmas emoções de Arnold Schwarzenneger.
Para o segundo semestre, espera-se a chegada de "Babe", produção australiana premiada com o Oscar e que conta a história de um porquinho e suas ambições.
Há um mês, circularam rumores em Pequim sobre uma suposta proibição do filme, provocada pelo medo de um sucesso estrondoso que "Babe" poderia ter com o público infantil.
Se "Babe" conseguiu visto de entrada na China, o mesmo não ocorreu com o superespião James Bond. A censura chinesa vetou o filme "Goldeneye", preocupada com a glorificação da "espionagem inimiga".
A entrada para "As Pontes de Madison" custa 30 yuans (US$ 3,6), contra um preço que não costuma passar de 10 yuans.
O salário médio em Pequim contabiliza 600 yuans (US$ 72) e, a partir dos anos 80, as reformas pró-capitalismo trouxeram mais opções de lazer, como os vídeos.
A injeção de qualidade com os filmes importados, e a curiosidade em relação ao Ocidente, levaram os chineses de volta ao cinema. Mas a jornalista Zhang Xia lançou um dúvida contra a onda de otimismo: "É cedo para comemorarmos um verdadeiro renascimento do cinema na China".

Texto Anterior: Leigh e Calopresti encenam desencontros
Próximo Texto: Indústria local tenta vencer concorrência
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.