São Paulo, domingo, 12 de maio de 1996
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Prevenção funciona em cidades do país

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DE DOMINGO

Equipes de agentes de saúde, enfermeiras e médicos que se dedicam a acompanhar populações carentes em diversos municípios brasileiros comprovam o velho dito popular -e diagnóstico consensual no mundo da saúde: é melhor prevenir do que remediar.
Melhor e mais barato. Em Olinda (PE), por exemplo, com cerca R$ 60 mil ao mês, a prefeitura paga suas 12 equipes médicas e seus 230 agentes de saúde, responsáveis por uma queda de 50% na mortalidade infantil das áreas mais miseráveis da cidade (leia à pág. 12).
"É barato", concorda o ministro da Saúde, Adib Jatene. Mas os custos relativamente baixos do trabalho preventivo não o transformaram numa realidade nacional.
O Sistema Único de Saúde (veja como funciona em gráfico na pág. ao lado) ainda está longe de atingir suas metas descentralizadoras e de controlar seus desperdícios. Da mesma forma que hospitais públicos continuam dando maus exemplos com sua ineficiência.
Dinheiro perdido
Jatene quer mais dinheiro na forma de uma taxa sobre movimentações financeiras, uma versão para a saúde do "imposto do cheque". Mas há quem afirme que o setor público precisaria, antes disso, empregar melhor seus recursos.
"O Brasil gasta uma fortuna e emprega muito mal o dinheiro", diz Francisco de Oliveira, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Oliveira vai além: acredita que o próprio modelo do SUS "está desenganado", por favorecer fraudes (leia à pág. 9).
Explica-se: sendo a remuneração por serviço prestado (consulta, exame etc.), haveria quase que um estímulo para a falsificação de procedimentos, com o intuito de obter maiores ganhos -operações inexistentes ou desnecessárias, consultas que não aconteceram etc.
É esse também o argumento da Prefeitura de São Paulo, que defende o sistema de pagamento antecipado em seu Plano de Atendimento à Saúde (PAS). No caso, os médicos, ligados a cooperativas, recebem um salário fixo -não ganham mais por quantidade de atendimento.
O plano paulistano tem contra si um argumento exatamente oposto ao usado pelos críticos do SUS: quanto menos gasta, quanto menos medica, mais economiza.
Público gasta mais
Independentemente da forma de pagamento, a ineficiência de hospitais públicos é um dos pontos críticos do sistema, segundo Dante Montagnana, presidente do Sindhosp, sindicato que representa 729 hospitais privados e Santas Casas do Estado de São Paulo.
Montagnana diz que um leito em hospital público ocupa entre 13 e 14 funcionários. Os hospitais privados de primeira linha "oferecem serviço melhor com metade dessa equipe".
A média de permanência em internações em hospitais públicos é de oito dias. Na rede privada, é de quatro a cinco dias.
"Uma internação em hospital privado sai quatro vezes mais barato que em hospital público", diz Arlindo de Almeida, presidente da Abramge, associação que reúne as empresas de medicina de grupo.
Se o setor privado apresenta números mais enxutos, não deixa de se beneficiar do poder público. É o que ocorre com planos privados de saúde, que não cobrem certas doenças e não reembolsam a rede pública quando seus associados são ali atendidos. Os planos devem ser alvo de medidas governamentais (leia à pág. 10).

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