São Paulo, domingo, 12 de maio de 1996
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Recém-nascidos têm "Diploma de Vida"

PAULO MOTA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM QUIXADÁ

Os municípios de Quixadá e Icapuí, no Ceará, desenvolvem uma política de saúde que já conseguiu reduzir a mortalidade infantil em 56% e 58%, respectivamente.
Em Quixadá (168 km ao sul de Fortaleza), o índice de mortalidade era de 78 mortes em cada 1.000 nascidos vivos, em 1992. Três anos depois o índice caiu para 34 mortes por 1.000 nascidos vivos.
Em Icapuí (210 km sudeste de Fortaleza), uma estimativa de 1988 indicava que ocorriam 100 mortes em cada 1.000 nascidos vivos. Hoje o índice é de 42 por 1.000.
As duas cidades (distantes cerca de 250 km uma da outra) conseguiram vacinar, em 1996, todas as suas crianças na faixa etária de zero a cinco anos.
Pré-natal
As taxas de acompanhamento pré-natal e de aleitamento materno das mães nas duas cidades estão entre as melhores do Ceará.
No pré-natal, as mães recebem uma caderneta, na qual faz-se o controle de sua saúde e do desenvolvimento do futuro bebê.
As nascer, a criança também recebe uma caderneta semelhante, um "Diploma de Vida" -com a data de nascimento e uma fotografia- e uma muda de acerola.
Segundo o secretário de Saúde de Quixadá, Odorico Andrade, a acerola simbolizaria a esperança de vida.
Unicef
Em 1991, Icapuí foi a primeira cidade brasileira a conquistar o prêmio Paz e Liberdade, do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância).
O projeto desta cidade começou a ser implantado em 1989, quando o PT assumiu a prefeitura local. O de Quixadá começou em 1993, quando o PT também assumiu o poder no município.
Nas duas cidades, o programa tem a mesma autoria: o médico Odorico Andrade. De 1989 a 1992 ele foi secretário de saúde em Icapuí. No ano seguinte, ele assumiu a secretaria de Quixadá, onde está ainda hoje.
O sistema dos dois municípios baseia-se na prevenção à doença e descentralização das ações de saúde -"ao contrário do modelo tradicional, que privilegia o atendimento hospitalar", diz Andrade.
Sistema
O sistema elaborado por Andrade serviu de base para o PSF (Programa de Saúde da Família), que está sendo adotado experimentalmente pelo Ministério da Saúde em cerca de mil municípios brasileiros.
O núcleo central do sistema é uma equipe de saúde formada por um médico, uma enfermeira, um auxiliar de enfermagem e dez agentes de saúde.
Morando em comunidades distantes, cada equipe acompanha cerca de mil famílias, cadastradas previamente pelos agentes. O posto de saúde de cada comunidade é a referência do atendimento. Quando necessário, a equipe faz atendimento domiciliar.
Como a equipe faz um acompanhamento diário das famílias atendidas, somente os casos mais graves são levados aos hospitais do município. O transporte é feito pelos carros disponíveis em cada distrito sanitário.
O acompanhamento feito pela equipe reduz a ocorrência de doenças, diminuindo os gastos com consultas e internações em hospitais.
No Hospital Eudásio Barroso, em Quixadá, a média de consultas ao mês caiu de 6.000, em 1992, para 1.800, no mês passado.
A secretária de saúde de Icapuí, Dilma Oliveira, 31, diz que o hospital da cidade só utiliza, em média, metade das 109 AIHs (Autorização de Internamento Hospitalar) de que dispõe mensalmente.

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