São Paulo, domingo, 12 de maio de 1996
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Brasil vivia guerra aberta em novembro de 1969

DO BANCO DE DADOS

A Aliança Libertadora Nacional surgiu em 1968 de dissidências do Partido Comunista Brasileiro. Com o objetivo de derrubar o regime militar, a organização usava táticas de guerrilha urbana -sequestros, assaltos a bancos e ataques a quartéis para roubar armas.
Coube à ALN a autoria de algumas ações terroristas ocorridas no Brasil nos anos 60. Seus militantes sequestraram no período de um ano dois embaixadores: em setembro de 69, Charles Burke Elbrick, dos EUA e, em junho de 70, o alemão Ehrenfried Von Hollenben.
O embaixador dos Estados Unidos Charles Burke Elbrick teve seu carro cercado por cinco homens armados numa tarde de setembro, no Rio de Janeiro.
Os sequestradores exigiram em troca da libertação do embaixador a publicação de um manifesto na imprensa e o envio para o exterior de 15 presos políticos.
Um dos sequestradores é o deputado federal Fernando Gabeira (PV-RJ).
Em 87, o ex-militante da ALN Carlos Eugênio Sarmento Coelho da Paz revelou à imprensa ter participado de um tribunal de cinco dirigentes da organização que teria condenado à morte o militante Márcio Leite de Toledo, que ameaçava mudar de sigla.
Enfraquecidos pela morte do líder Carlos Marighella, em novembro de 69, os militantes da ALN continuaram a agir.
Em setembro de 70, foram responsáveis pelo primeiro assalto a um carro-forte de empresa no Brasil.
Um carro da Brink's foi assaltado por seis integrantes da ALN, VPR e Movimento Revolucionário Tiradentes, em São Paulo.
Em julho de 70, Ana Burstzyn, militante da ALN procurada sob acusação de atividades terroristas, furtou uma sacola durante compras no Mappin, em São Paulo.
Foi apanhada pelos seguranças, que pediram que abrisse a bolsa e mostrasse os documentos. Diante da insistência do segurança, abriu a bolsa, tirou um revólver e disparou três vezes.
O funcionário da empresa foi baleado na perna. Ana foi levada para uma delegacia e presa.
Marighella
Segundo a versão oficial publicada na época, Marighella foi morto ao "resistir à ordem de prisão" do delegado Sérgio Fleury, do Dops (Departamento Estadual de Ordem Política e Social).
Fleury era então figura célebre do Dops, órgão que serviu como local de tortura de presos políticos durante o regime militar.
O comunicado do Dops dizia que os policiais teriam chegado até o dirigente da ALN usando como isca frei Yves do Amaral Lesbaupin e frei Fernando Brito, do convento das Perdizes.
Segundo o Dops, ao ir ao encontro dos dois padres dominicanos, que estavam em um Volkswagen, e receber a ordem de prisão, Marighella correu em direção ao carro, "momento em que fez menção de sacar, de dentro de uma pasta, os dois revólveres que estavam nela".
O então cardeal-arcebispo da Arquidiocese de São Paulo, dom Agnelo Rossi, negou o comunicado oficial ao dizer que recebeu informações do próprio Dops de que os dominicanos não teriam "traído" Marighella.
A versão do Dops menciona a participação dos padres "nos sucessos que ensejaram o encontro das autoridades policiais" com Marighella.
Mandato cassado
Carlos Marighella nasceu na Bahia, em 1912. Ingressou no Partido Comunista Brasileiro quando estudava engenharia em Salvador.
Foi um dos fundadores do partido na Bahia. A militância o levou duas vezes à prisão (1936 e 1939). Foi libertado com a anistia de 1945.
Eleito deputado federal pela Bahia, teve mandato cassado em 1947, quando o PCB foi colocado na ilegalidade.
Em São Paulo atuou na Baixada Santista e foi um dos homens de confiança de Luís Carlos Prestes. Em 1966, rompeu com Prestes e passou a defender a luta armada.
Em 1967, Marighella e outros dissidentes fundaram a ALN.

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