São Paulo, domingo, 12 de maio de 1996
Texto Anterior | Índice

Abandono provoca o suicídio de índios

EMANUEL NERI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os 30 mil índios guaranis-caiowás, do Mato Grosso do Sul, estão se suicidando. Na maioria das vezes, amarram uma corda em uma árvore baixa e dão uma laçada no pescoço. Como o galho é baixo, se ajoelham para facilitar a morte.
A opção pelo suicídio é um dado revelador do abandono oficial às populações indígenas. Somente no ano passado, 54 guaranis-caiowás se suicidaram. Foi um salto assustador em relação ao ano anterior, quando 28 índios se mataram.
A morte dos índios impressiona em todos os sentidos. Quase 40% dos suicidas são índios adolescentes. Em maio do ano passado, os pajés guaranis-caiowás se reuniram para descobrir o motivo dos suicídios.
Concluíram que os índios estão se matando por causa da miséria, da degradação ambiental, da perda gradativa de práticas religiosas e da falta de terras.
Grande parte dos guaranis-caiowás vivem espremidos em suas aldeias. Na reserva mais atingida pelos suicídios, no município de Dourados, viviam 8.900 índios em apenas 3.600 hectares -muito pouco para quem tira da terra sua sobrevivência.
A violência contra os índios não pára aí. O Brasil tem 250 mil indígenas brasileiros, divididos em 150 diferentes grupos étnicos. Grande parte deles enfrenta até hoje problemas com invasões de terras.
Muitas vezes esses conflitos terminam em morte. O Cimi (Conselho Indigenista Missionário) constata o assassinato de 105 índios nos últimos três anos. O maior número de mortes ocorreu em 1993.
Foram registrados 43 assassinatos de índios naquele ano. Dezesseis deles eram ianomamis, chacinados por garimpeiros na aldeia de Haximu, em Roraima, na fronteira com a Venezuela.
A fome é outro sério problema do índio brasileiro. Estudo do Inese (Instituto de Estudos Socioeconômicos) diz que, em 95, 106 mil indígenas enfrentavam problemas de fome e carência alimentar -em 1994 eram menos, 76 mil.
A expectativa de vida média dos índios também está caindo. Em 1993, os índios viviam em média 48,2 anos, o que é pouco comparado ao resto da população.
(EN)

Texto Anterior: Impunidade eleva número de mortes
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.