São Paulo, domingo, 12 de maio de 1996
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60% das consultas são incompletas

JAIRO BOUER
ESPECIAL PARA A FOLHA

Uma pesquisa inédita realizada no Hospital das Clínicas da USP revelou que a medida da pressão arterial -um dos procedimentos básicos de qualquer consulta médica- só é feita em 40% dos pacientes que chegam aos ambulatórios do hospital.
A hipertensão arterial é um dos principais fatores de risco para as doenças cárdio-vasculares (derrames). Estima-se que de 15 a 20% da população adulta brasileira tenha níveis elevados de pressão.
O trabalho do HC levantou 500 prontuários (registros do atendimento médico) de primeira consulta do final de 95.
Angela Pierin, professora-doutora da Escola de Enfermagem da USP, diz que outro resultado impressionante da pesquisa é que 21% dos pacientes que contaram para o médico que eram portadores de hipertensão arterial não tiveram sua pressão medida.
Segundo Angela, dos pacientes que tiveram sua pressão checada, 11% apresentaram níveis elevados (pressão diastólica ou mínima superior a 90 mmhg).
Realidade nacional
Décio Mion Júnior, chefe da Liga de Hipertensão do HC-USP, acredita que os resultados do trabalho reflitam uma realidade que acontece em todo o país.
Para ele, a população não sabe que precisa medir a pressão, muitos médicos não realizam esse procedimento, metade dos aparelhos de pressão estão descalibrados e o manguito (bolsa que infla durante a medida) não está sendo usado de acordo com as dimensões do braço de cada paciente, o que pode causar erros. "Do jeito que as coisas vão, ter um diagnóstico correto de hipertensão no Brasil é quase uma sorte", afirma Mion Júnior.
Bahia
Um trabalho semelhante ao do HC realizado pela médica Ines Lessa, do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia, encontrou dados parecidos.
Em 1984, Ines checou 1.088 prontuários das consultas iniciais de um dia de pacientes de clínicas e hospitais de Salvador. Em apenas 18% das consultas a pressão arterial havia sido verificada.
Em 91, após um programa sobre hipertensão arterial em Salvador, um novo levantamento de 800 prontuários revelou que a medida da pressão arterial na primeira consulta havia aumentado para pouco mais de 29%.
Fernando Nobre, coordenador da unidade de hipertensão do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto -USP, afirma que uma pesquisa feira num ambulatório de da cidade encontrou resultados iguais.
Uma equipe atendeu 240 pacientes que tinham consultas no ambulatório, tirou sua pressão e orientou para que essas pessoas não relatassem que sua pressão havia sido medida. Os pacientes foram para as consultas e 40% tiveram a pressão checada. Segundo Nobre, 18% deles eram hipertensos e ficariam sem diagnóstico.

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