São Paulo, domingo, 12 de maio de 1996
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Físico renomado perde concurso na USP

DA REPORTAGEM LOCAL

Um dos físicos mais conceituados internacionalmente foi reprovado em um concurso para professor-titular da USP.
O alemão Jochen Peter Biersack, 62, pesquisador-sênior no Instituto Hahn-Meitner e professor aposentado da Universidade Livre de Berlim, é um dos maiores especialistas em interação de íons com a matéria.
É uma área de ponta da física, com importante aplicação industrial, em especial na fabricação de semicondutores para informática.
Em março passado, o professor concorreu a uma vaga de professor-titular no Departamento de Física Nuclear do Instituto de Física da USP. Biersack ficou em terceiro lugar, entre quatro candidatos.
Biersack publicou mais de 200 artigos e seus estudos foram citados 3.800 vezes (desde 1984), segundo dados do Citation Index.
O pesquisador brasileiro melhor colocado no Citation Index teve 1.349 citações em 12 anos.
Biersack também é organizador de diversos congressos internacionais, edita revistas, lecionou na Universidade de Nova York e trabalhou no Centro de Pesquisa IBM Watson, nos EUA.
No Instituto de Física da USP, Biersack dá cursos de pós-graduação desde 1994, como professor-visitante.
Português
A banca examinadora do concurso foi presidida por Antonio Fernando Piza, titular do Instituto de Física da USP.
Além de Piza, três outros físicos e um matemático, de outras instituições, completaram a banca.
A comissão escolheu Alinka Lépine-Szily, 53, da área de física nuclear experimental.
Hoje professora-visitante na respeitada Universidade Católica de Louvain (Bélgica) e ex-pesquisadora do laboratório Ganil (França), Lépine reconhece que o seu currículo é inferior ao de Biersack.
Em 1995, por exemplo, nenhum dos seus 25 trabalhos recebeu citação, segundo o Citation Index. No ano passado, Biersack teve 245.
"Eu mesma estranhei o resultado. O currículo dele era melhor do que o de qualquer candidato", disse Lépine à Folha da França.
Lépine acredita que Biersack foi prejudicado por não falar português e por uma "decisão política da banca de dar a vaga para alguém da instituição".
"Leciono na USP há 30 anos. De repente, chega alguém que fez toda a carreira lá fora. É óbvio que eu tenho menos publicações, mas nossas condições de trabalho são muito mais difíceis", disse.
O diretor do Instituto de Física da USP, Gil da Costa Marques, não quis comentar o resultado porque "a comissão é soberana". "Mas concordo que deveríamos priorizar, em concursos, áreas de pesquisa e buscar, dentro ou fora da instituição, profissionais adequados a elas", disse.
O presidente da banca, Antonio Fernando Piza, disse que "Biersack é muito mais um técnico que um professor".
Para ele, o interesse da Folha pelo concurso é "terceiro mundismo": "Não é porque ele é alemão que é melhor que os outros".
Piza também discorda que o número de citações seja um critério válido: "É uma tentativa de substituir a leitura dos trabalhos".

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