São Paulo, domingo, 12 de maio de 1996
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Resgate de LFTs confirma desindexação

MILTON GAMEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

O último resquício inflacionário relevante no mercado financeiro tem data certa para morrer: 1º de junho próximo, exatos dois anos após o nascimento do real.
Nesse dia, vencem as últimas LFTs (Letras Financeiras do Tesouro), papéis utilizados para rolar diariamente a dívida mobiliária federal nos tempos de inflação elevada -quando nenhum investidor tinha coragem de financiar a União por prazos maiores do que as 24 horas do overnight.
Serão resgatados 2,25 bilhões de LFTs, num valor aproximado de R$ 2,5 bilhões, estima Luís Fernando Figueiredo, diretor tesoureiro do banco BBA Creditanstalt.
"É uma vitória da desindexação. Deve ser comemorada ", diz Figueiredo.
Nos últimos tempos, o Tesouro só tem emitido papéis com prazo mínimo de seis meses, nos quais as taxas são prefixadas. Nesses títulos, os investidores já sabem, de antemão, quanto vão receber no final da aplicação.
Um ano atrás, o máximo que o Tesouro conseguia de prazo eram 60 dias nos papéis prefixados e 180 dias nos pós-fixados. Hoje, já coloca títulos pós-fixados (corrigidos pela TR) com vencimento em 360 dias.
Sonho americano
O alongamento da rolagem da dívida pública federal revela que os investidores nesses títulos (bancos, fundos de investimento) estão mais confiantes na estabilidade da inflação.
O resultado ainda está longe do ideal -nos Estados Unidos os papéis federais tem prazos de até 30 anos-, mas revela uma mudança de comportamento a favor do Plano Real.
Ainda há papéis federais de prazo relativamente curto, os BBCs (Bônus do Banco Central), com mínimo de 60 dias. Estes, contudo, têm um objetivo diferente das LFTs, LTNs e NTNs, usadas para rolar a dívida do Tesouro.
Os BBCs são usados pelo Banco Central para controlar a quantidade de dinheiro em circulação. Nos jargão dos economistas, para ampliar ou enxugar a liquidez.
No mercado de títulos privados, o alongamento também deu as caras. No último dia 22 de abril, a Cetip (central de liquidação de títulos privados) radiografou o perfil dos CDBs (certificados de depósito bancário) a pedido da Folha.

Alongamento
Os resultados são animadores: dos R$ 42,2 bilhões em CDBs prefixados emitidos, somente R$ 12,8 bilhões (30,5%) tinham prazo de 30 dias para resgate. Outros R$ 8,6 bilhões (20,3%) venciam em 60 dias e R$ 13,0 bilhões (30,9%) tinham prazo de 91 a 360 dias. Acima disso, havia R$ 2,0 bilhões (4,7%) em CDBs.
Os papéis pós-fixados -feitos para quem não quer correr riscos com a inflação- somavam, na mesma data, R$ 2,7 bilhões.

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