São Paulo, domingo, 12 de maio de 1996
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O alheamento do poder

LUÍS NASSIF
O ALHEAMENTO DO PODER

Nove entre dez analistas econômicos e políticos identificam claramente os problemas que afetam o governo e ameaçam o Plano Real.
Na ponta dos indicadores macroeconômicos, o aumento desmesurado do déficit e da dívida pública e a fragilidade das contas externas.
No plano político, o evidente esgarçamento da imagem do presidente da República junto à classe média, por culpa do desgaste produzido pela crise e do longo período que FHC levou para esquecer as viagens internacionais e se concentrar no trabalho diuturno interno.
A coluna se limita a reproduzir os alertas que formulou ao longo dos últimos 12 meses.
10 de maio de 95 O que essa política monetária maluca irá produzir são favas contadas.
Num primeiro momento, o aprofundamento da recessão, o aumento da inadimplência e do desemprego. Num segundo, a volta da inflação, pelo aumento dos custos fixos (única previsão que falhou).
12 de maio de 95 A estabilidade é de curto prazo, porque basta os agentes econômicos analisarem as curvas de progressão da dívida pública para constatar que essa maluquice não se mantém.
16 de maio de 1995 Como não haverá reforma fiscal e aumento de impostos que dêem conta desse aumento do passivo (...), a única maneira de fechar a conta, mais à frente, será dar o que os operadores de mercado chamam de mais um toco, ou totó na dívida -calote, em português claro.
20 de maio de 95 As únicas coisas que (a política monetária) vai produzir serão a volta dos lucros indecentes para esses grupos, a inviabilização financeira do Estado e a desorganização do setor privado.
O quadro vai ficar claro nos próximos balanços dos grandes grupos (revelando seu lucro) e nas próximas estatísticas de inadimplência.
22 de maio de 1995 Em pouco tempo, a manutenção dessas taxas de juros inviabilizará definitivamente o ajuste fiscal do Estado. E começará a se refletir na arrecadação fiscal.
É bom que o presidente da República se dê conta de que (...) a fatura lhe será cobrada daqui a poucos meses.
17 de julho de 1995 A manutenção das altas taxas de juros está lançando as sementes de uma crise fiscal que ainda vai estourar no próprio governo FHC.
19 de dezembro de 1995 Esse nó político só se resolve com o envolvimento pessoal do presidente com essas banalidades do cotidiano dos processos gerenciais. E com um pouco de humildade para entender que o demônio está nele, presidente, em sua dificuldade de decidir, amarrada a um estilo excessivamente centralista.
20 de dezembro de 1995 Se a imitação do humorista (Tom Cavalcante, sobre as viagens do presidente da República) continuar a arrancar gargalhadas da classe média, não haverá cargo que mantenha a tripulação pefelista a bordo.
21 de dezembro de 95 Como o FHC inteligente não morreu, logo vai se dar conta da necessidade de formular uma estratégia para a crise e de parar de se meter nesses bate-bocas de comadre.
Espera-se apenas que não demore muito.

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