São Paulo, domingo, 12 de maio de 1996
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Damon quer fazer jus ao legado do pai

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE; MAURO TAGLIAFERRI; DANILO VALENTINI
DA REPORTAGEM LOCAL

Título torna-se obsessão

Em 1994, Damon Hill conseguiu um feito histórico. Empunhou a bandeira britânica na volta da vitória em Silverstone.
O filho de Graham, então, se tornava o primeiro representante da família a vencer um GP inglês.
Foi uma das poucas vezes que Damon falou espontaneamente sobre o pai. "É como se eu tivesse terminado um trabalho dele. Foi uma boa sensação."
A missão familiar foi cumprida. Mas de modo pouco brilhante, como parece ser a norma na carreira desse inglês de 35 anos.
A vitória foi facilitada por um preciosismo do diretor de prova, que puniu o rival Michael Schumacher, então na Benetton, com um "Stop & Go".
O alemão não parou e recebeu bandeira preta, que ordenava sua imediata parada nos boxes. O caso acabou no tribunal da Federação Internacional de Automobilismo e tirou Schumacher de duas provas.
O episódio, no final das contas, deixou Hill em condições de disputar o título na última corrida da temporada. Mas ele não ganhou. Como não ganharia também no ano seguinte.
Romantismo
Toda essa trajetória, uma mistura de oportunidade e desperdício, ou sorte e azar, afastou Damon de seu pai, um dos símbolos da era romântica da F-1.
Um tempo que ele pouco lembra. Quando Graham morreu, em um acidente aéreo, em 1975, ele tinha apenas 15 anos.
"É claro que sou filho de meu pai. Mas pensar que você herda tudo na vida é um erro."
Essa tranquilidade era traduzida por cavalheirismo e contrastava com a audácia de companheiros como Jim Clark e Jackie Stewart.
Galanteador, Graham também não incutiu no filho o gosto pelo glamour que envolve os GPs.
Damon é conhecido como um homem caseiro, que prefere a convivência com a mulher e com os três filhos -um deles, excepcional- às badalações.
"Seus genes me passaram o amor pela velocidade, pela competitividade e a habilidade de reagir rapidamente aos fatos."
O discurso de Damon comete uma impropriedade científica, já que a genética não explica sua escolha pela profissão do pai.
Segundo o professor Oswaldo Frota Pessoa, do departamento de Biologia da USP (Universidade de São Paulo), o fator ambiental é muito mais importante.
"Os traços da personalidade do ser humano, em parte, vem do fator genético. Mas o mais importante é a influência da educação que ele teve."
Exemplo
Damon reconhece que o "exemplo" foi a principal arma utilizada por seu pai durante sua criação.
"Ele encarava a vida de frente. Simplesmente ignorava as dificuldades. Tinha um código de conduta que, em parte, tentou impor a mim. Em termos claros, era um homem de verdade."
Essa imagem forte talvez se explique porque Graham era pobre e só sentou em um automóvel quando tinha mais de 20 anos.
E seu talento foi suficiente para torná-lo bicampeão mundial e dono da própria escuderia.
Um time que morreu junto com seu dono, já que a maioria de seus integrantes estava a bordo do aeroplano que o próprio Graham conduzia em novembro de 75.
Esse acidente não tirou de Damon apenas o pai. A folga financeira da família Hill acabou dilapidada por companhias de seguro.
Sorte
Fadado a se tornar apenas mais um piloto na história do automobilismo britânico, Damon acabou contando com uma sorte que seu pai não teve para chegar à F-1.
Em apenas três anos, passou de piloto de testes à principal figura do melhor time, a Williams.
Tanta facilidade lhe deu a certeza: "Vou chegar ao título". Mas não a de que poderá ser um campeão do quilate de seu pai.

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