São Paulo, domingo, 12 de maio de 1996 |
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Avião de Santos-Dumont vai decolar em São Paulo
FERNANDO DE BARROS E SILVA
O projeto, inédito no país, está sendo tocado no Parque de Material Aeronáutico de São Paulo, no Campo de Marte (zona norte de São Paulo), onde o grupo está construindo um novo Demoiselle nº 20, avião que Santos-Dumont fabricou em 1909, na França, e com o qual chegou a voar algumas vezes sobre Paris. Se tudo der certo, a cópia da Libélula, como foi batizada pelos franceses em função de sua semelhança com o inseto, decola do Campo de Marte no dia 23 de outubro -o Dia da Aviação-, quando há 90 anos, em 1906, Santos-Dumont punha pela primeira vez no céu parisiense o seu 14-Bis, que voou por cerca de 60 metros, a uma altura de dois a três metros. A idéia de fazer voar um aviãozinho oito vezes menor que o 14-Bis, com oito metros de comprimento, envergadura (distância de uma asa a outra) de 5,6 metros, feito com bambu, alumínio usado em bicicletas e um motor semelhante ao do Fusca, não entusiasmou até agora nem a própria Aeronáutica. O grupo de militares, todos responsáveis pela manutenção de aviões da Força Aérea Brasileira, foi autorizado a construir sua Demoiselle fora dos horários de serviço, sem ajuda financeira ou qualquer outro apoio. Trabalhando sem dinheiro, os "herdeiros" de Santos-Dumont vão montando a aeronave na base do jeitinho. Conseguiram da Volkswagen a doação de um motor de Fusca de quatro cilindros, que já seccionaram ao meio para transformá-lo num motor de dois cilindros, muito semelhante ao modelo Darracq, usado por Dumont. O Instituto Agronômico de Campinas (IAC) também forneceu ao grupo um tipo de bambu semelhante à cana-da-índia, usada no original, depois de pesquisar entre as 1.200 espécies existentes. A supervisão técnica do projeto é do capitão Francisco Domingues, engenheiro formado pelo ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica). Para garantir a segurança do vôo, Domingues está fazendo uma versão miniaturizada do Demoiselle, usando a mesma escala dos sete desenhos do aparelho, publicados numa revista especializada em aeronáutica em 1910. Aeromodelo Com o modelo miniaturizado pronto, Domingues pretende arremessá-lo com as mãos. "Se ele voar durante um certo tempo, o grande também vai voar. Quem conhece aerodinâmica sabe que este é um teste seguro", afirma o capitão. "Além disso, no modelo grande o piloto pode corrigir o vôo, no pequeno não há piloto", completa Domingues. O piloto que deverá dirigir o Demoiselle, Jarbas de Barros Domingues, primeiro idealizador do projeto, diz não ter medo de ser a cobaia da invenção. "Em 1909 esse troço voou e ninguém se matou", afirma Jarbas. "A sensação é de entusiasmo e expectativa, como ir ao motel pela primeira vez", explica o piloto. Mostrando ser o mais entusiasmado com a aventura, o sargento Julio Philot, outro integrante do grupo, brinca com Jarbas: "Ele vai ser a cobaia da geringonça". Quem não confia muito no sucesso aéreo do novo Demoiselle é o major-aviador Darcy Pereira Leite, superior dos militares envolvidos no projeto. Segundo Philot, o objetivo é fazer com que o Demoiselle voe em 23 de outubro de forma segura, "sem testar a sua capacidade máxima e sem exibicionismos que coloquem em risco a vida do piloto". O percurso a ser feito ainda provoca discussão entre os idealizadores. O capitão Domingues prevê um vôo curto, de cinco minutos, decolando e pousando no Campo de Marte. Philot acredita ser possível e seguro decolar de Congonhas e pousar no Campo de Marte. Santos-Dumont construiu quatro Demoiselles entre 1907 e 1909. Chegou a voar 18 km com um deles. A velocidade recorde foi de 96 quilômetros por hora -percorreu oito quilômetros em cinco minutos a uma altura de 60 metros. Logo depois cogitou atravessar o canal da Mancha a bordo do aparelho, mas foi demovido da idéia por um amigo, segundo quem a engenhoca "mais parecia um brinquedo que um avião". Texto Anterior: Natureza vai 'testar' ciência Próximo Texto: Orquestra da Bayer vem ao Ibirapuera Índice |
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