São Paulo, domingo, 12 de maio de 1996
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Ku Klux Klan inaugura loja nos EUA

PATRICIA DECIA
DE NOVA YORK

A Ku Klux Klan, organização que prega a supremacia dos brancos, está deixando as reuniões secretas e divulgando sua ideologia através da mídia e do comércio.
Eles expandiram suas atividades e agora têm talk-show na TV, promovem manifestações abertas em escolas, abriram uma loja e pretendem construir um museu.
"A nova estratégia da organização é considerar a raça branca como uma minoria e comparar suas atividades às dos negros, tentando legitimá-las", afirmou à Folha Bernard Broussard, 49, porta-voz da NAACP (Associação para o Progresso de Pessoas de Cor).
A mais recente investida nesse sentido foi a inauguração da loja Redneck (pescoço vermelho) no dia 1º de março, na cidade de Laurens, na Carolina do Sul.
A loja enfrentou manifestações contra seu funcionamento. O reverendo Jesse Jackson, ex-senador e líder de organização de direitos civis, organizou uma marcha em protesto pela cidade.
No dia 24 de março, David Prichard Hunterm, que é branco, chocou seu furgão contra a vitrine da loja, propositadamente, também em protesto. Hunterm acabou sendo processado por danos ao patrimônio de terceiros.
A Redneck vende material da KKK, objetos usados nas reuniões, bandeiras da organização, fotos de cruzes sendo queimadas, fotos de reuniões e dos membros fundadores, além de literatura racista.
John Howard, proprietário e membro da organização, diz que o objetivo é arrecadar dinheiro para construir um museu na cidade.
Talk-show
Em Lafayette (Louisiana, sul) outro membro da KKK, Darrel Flynn, apresenta um talk-show. O programa está ameaçado de sair do ar. A NAACP entrou com ação pedindo sua proibição.
Segundo Broussard, da NAACP, a organização desrespeitou uma lei estadual que proíbe a aparição em público usando máscaras.
A lei, de 1924, foi criada para diminuir a violência da KKK, quando os membros utilizavam o anonimato proporcionado pelas fantasias para cometer assassinatos de negros. O julgamento está marcado para o dia 6 de junho.
Darrell Flynn, 34, que apresenta o talk-show, afirma que a organização abandonou a violência e que a KKK tem direito à liberdade de discurso. "Se há programas de negros e de homossexuais, nós também temos o direito de ir ao ar com nossas idéias", afirmou à Folha.
Os convidados geralmente são membros da organização. O programa, chamado "The Klan in Akadiana" ("A Klan em Akadiana"), tem duas linhas telefônicas e recebe perguntas ao vivo.
Flynn, chefe do escritório nacional da KKK, vem participando de vários talk-shows em rede nacional de TV. O mais importante deles foi o "Larry King Live", da CNN, onde se confrontou com o reverendo Jesse Jackson.
Nascido em Oklahoma e membro da KKK desde os 16 anos, Flynn prega a segregação total.
No último dia 6, em Lafayette, a Klan promoveu o Dia do Orgulho Branco, convocando estudantes de escolas públicas a usar apenas roupas brancas.
A cidade é um dos principais redutos da organização, segundo Broussard. Ele afirma que um dos motivos para a força da KKK é o apoio da classe média branca.
Lafayette tem 100 mil habitantes, 33 mil deles negros. Segundo Broussard, 37% da população vive abaixo da linha da pobreza (renda inferior US$ 500). A maioria é formada por negros.

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