São Paulo, domingo, 12 de maio de 1996
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É DIFÍCIL DESENFORCAR

A crise bancária foi mitigada. Quanto à crise de crédito, existem mais dúvidas do que certezas.
O governo tem relaxado algumas restrições. A medida mais recente foi a liberação dos prazos de financiamentos para compras por meio de cartão de crédito, antes limitados a três prestações. Foi também flexibilizada a operação de consórcios de vários produtos, como carros, eletrodomésticos e imóveis.
O consenso entre os profissionais do mercado é de que tais medidas são essencialmente tímidas. Haverá alguma recuperação de vendas, provavelmente será possível escoar um pouco mais os estoques que se acumulam, em especial de automóveis. Mas ninguém ousa dizer que o oxigênio já é suficiente para promover o crescimento econômico.
Há dois aspectos fundamentais que justificam o ceticismo. Em primeiro lugar, está a resistência do governo em flexibilizar os depósitos compulsórios dos bancos no BC que, forçando o racionamento do crédito, impedem a redução mais rápida dos juros ao consumidor e às empresas.
Uma explicação importante para essa resistência do Planalto em aumentar a liquidez da economia é precisamente o fato de que, para evitar a crise bancária, o governo já vem liberando massas expressivas de recursos, em especial por meio do Proer.
Abrir a torneira do Proer, portanto, exige que se mantenha fechada a torneira dos compulsórios, para evitar uma inundação monetária que ameaçaria o plano de estabilização.
O segundo aspecto fundamental é inerente à própria crise de crédito. A inadimplência elevada torna os credores muito mais conservadores. O mesmo pode valer para os devedores, escaldados pelo aprendizado.
Uma crise de crédito pode ser comparada a um enforcamento. Quando a corda é repuxada, a asfixia começa imediatamente. Nada entretanto é mais difícil e demorado que tentar desenforcar uma economia.

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