São Paulo, domingo, 12 de maio de 1996
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O HOLOCAUSTO

Trava-se nos EUA e na Europa uma forte polêmica em torno do Holocausto nazista, provocada pela publicação do livro "Os Carrascos Voluntários de Hitler - Alemães Comuns e o Holocausto", de autoria de Daniel Jonah Goldhagen, professor de história em Harvard. A história toda está no caderno Mais! da edição de hoje.
Para Goldhagen, os cerca de 300 mil participantes ativos do massacre contra os judeus agiram de espontânea vontade e ainda contando com o apoio de seus compatriotas. O autor atribui o Holocausto a uma especificidade do anti-semitismo alemão. Ele acredita que a maioria dos alemães considerava os judeus subumanos e também fonte de tudo o que havia de errado na Alemanha.
A tese da responsabilidade coletiva no Holocausto não é exatamente uma novidade, mas vinha sendo cada vez mais deixada de lado pelos historiadores. Bem documentado, Goldhagen realmente mostra que o anti-semitismo na Alemanha era maior do que alguns imaginaram e demonstra que as "execuções" não eram obra exclusiva de fanáticos militantes nazistas das temíveis SS de Adolf Hitler. Daí a concluir que a maioria do povo alemão -em seu anti-semitismo- disse sim ao extermínio em massa parece haver exagero.
Outros autores consagrados, como por exemplo Joachim Fest, autor de uma das melhores e mais completas biografias do ditador nazista, afirma que os alemães não eram nem mais nem menos anti-semitas que a maioria das populações européias. Fest vai ainda mais longe e diz que o ódio de Hitler aos judeus era muito mais de tipo balcânico do que de tipo germânico. Os atuais acontecimentos na ex-Iugoslávia não deixam nenhuma dúvida sobre o potencial de ódio existente naquelas populações.
O fato é que Goldhagen mostra que a participação dos alemães comuns no Holocausto foi maior que a que se imaginava, mas não convence quando afirma que os alemães chancelaram o Holocausto. Omissão de muitos, sim. Conivência, talvez. Medo, certamente. Já apoio, parece exagero. Se toda a culta e civilizada sociedade alemã dos anos 40 disse sim ao mais terrível massacre do século, tem-se a prova evidente da precariedade da condição humana.

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