São Paulo, domingo, 12 de maio de 1996
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o benefício da desordem

ANTONIO MEDINA RODRIGUES

"O Palmeiras? É o melhor do mundo..." Foi meu filho quem o disse. E não disse de boca cheia (somos Corinthians). Disse como quem fala de uma praga, uma gripe, um contratempo. Nada, portanto, pessoal. "Isso passa", confortou-me. Boa fase acontece, como as gatas entram no cio ou os vulcões se reanimam. Há quem lembre o patrocínio milionário (com que esse mesmo Palmeiras já perdeu títulos). O fato é que, seja por dinheiro ou por acaso, nunca o Palestra jogou assim. E os jogadores? Bons. Dois ou três ótimos. Nada para meter aqueles cinco no timão das Alemanhas. Mas, então, qual a razão, ó Glauco?
O que explica o Palmeiras é o benefício da desordem. Experimente fazer uma mudança, em caminhão, ou pôr os livros no lugar, ou visitar o seu passado, ou casar de novo, etc. E você verá que sob as alterações tremendas, muita novidade chega aos borbotões, sem tempo para que você volte atrás ou se divida em dois. É o Palmeiras de agora. Isso é mítico. O futebol paulista é um esplendor nas ruínas. Não tem estádio, não tem torcida, virou turismo, perdeu a ecologia, e os cartolas não têm muito o que dizer. Os escores são imprevisíveis. Só o Palmeiras é previsível. Curiosamente, nunca tivemos um certame tão civilizado. Estamos melhorando.

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