São Paulo, segunda-feira, 13 de maio de 1996
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Laudo revela que Marighella não reagiu

GEORGE ALONSO
DA REPORTAGEM LOCAL

Laudo oficial que integra o dossiê sobre o caso Carlos Marighella, líder da ALN (Ação Libertadora Nacional) morto a tiros em 4 de novembro de 1969, em São Paulo, revela que o guerrilheiro de extrema esquerda não atirou no instante em que se viu cercado por pelo menos 45 agentes disfarçados da polícia política do regime militar.
Os policiais participavam de uma emboscada preparada especialmente para capturar Marighella na alameda Casa Branca, ente a alameda Lorena e a rua Tatuí, nos Jardins (zona sul de São Paulo).
A perícia realizada em 26 de novembro de 1969, a pedido do delegado Edsel Magnotti, que integrou o Dops (Departamento Estadual de Ordem Política e Social) e participou da ação contra Marighella, apontou que o revólver Taurus calibre 32 de Marighella portava estava em perfeitas condições de uso, mas as cinco balas nela colocadas estavam intactas.
Nas conclusões, o relator do Instituto de Polícia Técnica Wilson Ferreira foi claro: "A pesquisa de resíduos de combustão e pólvora deu resultado negativo".
Na versão oficial, o terrorista teria sido morto numa troca de tiros entre seu grupo de segurança e policiais.
Ainda segundo essa versão, dois policiais foram feridos na operação -um teria morrido.
Em sua edição de ontem, a Folha publicou um novo laudo, do legista Nelson Massini, mostrando indícios de que o terrorista foi morto por um tiro à queima-roupa.
A Folha obteve o laudo de Massini na sexta-feira, depois de contatos, ao longo da semana, com a Comissão de Mortos e Desaparecidos. A reportagem foi concluída na noite de sexta para a edição de domingo, que chega em bancas na tarde de sábado.

O que diz a família
Os dois documentos levam Clara Charf, viúva de Marighella, e Carlos Augusto Marighella, único filho do guerrilheiro, a acreditar que houve "execução".
"Ele estava sozinho e nem teve tempo de reagir. Pela desproporção de forças e meios empregados, é óbvio que houve execução", disse Charf, 70, que foi companheira de Marighella durante 21 anos.

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