São Paulo, terça-feira, 14 de maio de 1996
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Filho de Marighella quer "a verdade"

GEORGE ALONSO
DA REPORTAGEM LOCAL

Carlos Augusto, 47, filho único de Carlos Marighella, disse, de Salvador (BA), que é hora de resgatar "a verdade histórica". "Até agora só valeu a versão oficial."
Filho de casamento curto de Elza Sento Sé (hoje com 74 anos) com Marighella, viu o pai vivo pela última vez em 1964. Em 1969, o veria de novo, só em fotos. Morto.
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Folha - Qual foi a última vez que viu seu pai, Carlos Marighella?
Carlos Augusto Marighella - Aos 15 anos, em 1964, após o golpe, quando foi baleado e preso em cinema no Rio. Foi na prisão, onde ficou 80 dias. Depois, foi para a clandestinidade. Nunca mais o vi.
Folha - Como soube da morte?
Carlos Augusto - Já estava na Bahia. Um jornalista ligou dizendo que tinham chegado fotos. Chamou a família para identificá-las.
Fomos ao jornal. Foi um choque. Já estava acostumado a receber notícias sobre sua morte ou prisão, mas sempre falsas.
Folha - O que a família fez?
Carlos Augusto - Fomos ao quartel do Exército e manifestamos o desejo de fazer o enterro. Nos ameaçaram. Enterraram Marighella em 6 de novembro. No dia seguinte fomos ao cemitério em São Paulo. Aquela atitude deixou na gente a sensação de que estavam escondendo alguma coisa.
Folha - Como vê a lei 9.140?
Carlos Augusto - É um avanço, mas foi feita para excluir Marighella e Carlos Lamarca. É tentativa de conciliar o direito dos que se opuseram à ditadura com interesses de militares remanescentes da época.
Folha - Como é carregar o sobrenome Marighella?
Carlos Augusto - Sofri, houve muita discriminação. No Rio, em 1964, foi expulso de colégio. O diretor disse que a escola não poderia ter um filho de comunista.
Folha - Por que essa luta para resgatar a imagem de Marighella?
Carlos Augusto - Porque queremos uma reparação moral. A lei prevê indenização, mas nunca fizemos pedido nesse sentido.
Sempre falaram dele como guerrilheiro desvairado e assaltante de bancos. Quem fechou o Congresso, ocupou jornais, editou leis? Qualquer um pode se propor a enfrentar essa situação com armas. A política era a lógica dele. Os militares queriam eliminar a esquerda.

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