São Paulo, terça-feira, 14 de maio de 1996
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Polícia investiga grupo de extermínio

RUBENS VALENTE
FREE-LANCE PARA A AGÊNCIA FOLHA, EM CUIABÁ

O DI (Departamento de Inteligência) da Polícia Civil do Mato Grosso investiga um suposto grupo de extermínio de adolescentes envolvendo policiais em Cuiabá.
Nos dias 30 de abril e 1º de maio, três adolescentes -todos com registro na polícia por pequenos delitos- e um rapaz de 19 anos foram sequestrados no bairro Tijucal, periferia da capital, e estão desaparecidos.
"Nossa prioridade agora é encontrar os corpos", disse ontem o diretor do DI, Luiz Carlos Lopes.
Entidades de direitos humanos cobraram mais rapidez na investigação do caso, em reunião na quinta-feira passada com os secretários de Estado da Justiça, Hermes de Abreu, e da Segurança, Aldemar Guirra.
O representante do MNMMR (Movimento Nacional dos Meninos e Meninas de Rua), Carlos Caetano, disse que há "um extermínio camuflado". Segundo o MNMMR, outros cinco adolescentes acusados de ser infratores foram assassinados em Cuiabá até o final de abril.
Na última sexta-feira, a Justiça decretou a prisão preventiva do policial civil João da Silva Mendes, 40, o "Caravela", apontado por testemunhas como um dos sequestradores dos adolescentes. Ele está foragido.
A Justiça decretou também a prisão preventiva de outros dois acusados: o ex-comissário de menores e motorista Douglas Bazanini de Souza, 31, e o motorista desempregado Reinaldo Pires dos Reis, 41.
Douglas não quis dar entrevistas, mas negou o crime em depoimento. Reinaldo Pires dos Reis também nega e diz estar sendo vítima de "um engano". Ele foi apontado por quatro testemunhas.
O primeiro caso ocorreu às 10h30 do dia 31, em endereço não revelado pela polícia para garantir a segurança da principal testemunha, a namorada da vítima.
A.B.I., 16, com registro de furtos na Deca (Delegacia Especializada da Criança e do Adolescente) não foi mais visto, depois de retirado de casa e colocado numa Pampa.
O corpo de um adolescente, com dois tiros de espingarda no peito, foi achado na semana passada boiando na lagoa que divide o bairro Paiaguás do CPA (Centro Político-Administrativo), onde fica o Palácio Paiaguás, sede do governo do Estado.
Amigos e policiais que conheciam A.B.I. reconheceram o corpo, mas o pai, o funcionário público Oscar Abreu Lima, não confirmou a identidade.
O segundo sequestro ocorreu no último dia 1º, num fliperama.
Três homens, numa Brasília vermelha, renderam e sequestraram V.S.F. e F.S., ambos de 16 anos, acusados por pequenos furtos, e Marcos Henrique Sampaio, 19, que não era acusado de nenhum crime, segundo a polícia.
As mães dos desaparecidos, duas empregadas domésticas e uma auxiliar de enfermagem, promoveram uma passeata de protesto.

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